O Governo de Gaspar Dutra
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O governo de Gaspar Dutra estendeu-se de 1946 a 1951 e inaugurou a Quarta República Brasileira. Esse período se iniciou com a deposição de Getúlio Vargas e se encerrou em 1964, quando ocorreu o Golpe Militar. O governo de Gaspar Dutra foi caracterizado pelo alinhamento do Brasil com os Estados Unidos durante a Guerra Fria e pela perseguição aos comunistas no País.
Às eleições presidenciais de 02 de dezembro de 1945 concorreram: pela UDN, o Brigadeiro Gomes, símbolo do liberalismo e da resistência à ditadura; pelo PSD e PTB, esse último temeroso da candidatura udenista e seu ferrenho opositor, o general Dutra, numa tentativa de conciliação entre os restos do estadonovismo e a democracia nova. O Partido Comunista também apresentou seu candidato, o engenheiro Yeddo Fiúza, que conseguiria 600.000 votos entre os cinco milhões de eleitores. A vitória do general Dutra, com 1.200.000 votos de vantagem sobre o Brigadeiro Eduardo Gomes, pode ser explicada pelo apoio dado ao general pelos proprietários agrícolas, os coronéis, e pela existência da máquina estatal getulista. Os primeiros temiam o “risco das experiências sociais” udenistas, isto é, o abandono do campo pela cidade; os getulistas sabiam que a vitória do Brigadeiro seria sua absoluta destruição como força política. O general Dutra, em sua gestão, seguiu uma política conservadora; procurou dar tranquilidade social e intangibilidade à estrutura econômico-social do Brasil. Sua posse se deu a 31 de janeiro de 1946. Fora Ministro de Guerra de Vargas e um dos principais artífices de sua deposição. No plano político, procurou unir os partidos de centro e formar “uma muralha contra o perigo vermelho”. Em seu governo, o Brasil rompeu relações com a União Soviética e o Partido Comunista Brasileiro foi colocado na ilegalidade: os mandatos de seus deputados e do senador Luís Carlos Prestes foram cassados.
Seu governo iniciou sob a pressão da inflação. O papel-moeda e o crédito cresceram descontroladamente, diminuindo o poder aquisitivo do povo e provocando uma assustadora alta de preços.
Os primeiros anos da gestão recordavam a época do Encilhamento no início da República Velha. “Fundavam-se diariamente novas companhias por ações para explorar petróleo, grandes usinas siderúrgicas, imensas fábricas de alumínio, que desapareciam antes de começar a funcionar, ao mesmo tempo que os espertos incorporadores começavam a vender ações de porta em porta e cada pequeno funcionário, cada empregado do comércio, cada entregador de pão, cada empregada doméstica já se via recebendo lucros e dividendos por ações que não valiam o papel em que estavam impressas.”(Leôncio Basbaum). Ainda no plano econômico, durante a presidência do general Dutra, as importações, que haviam cessado devido à Segunda Guerra Mundial, aumentaram extraordinariamente.
As causas desse fenômeno foram a necessidade de reposição do material desgastado e não substituído durante o conflito europeu e o enriquecimento de alguns setores da população, beneficiados pela intensa especulação que caracterizou a vida financeira do Brasil no período Vargas. “Isto é facilmente verificado na pauta das importações, em que se destacam os gêneros e artigos suntuários, sem outra significação que a de alimentarem o bem-estar e luxo das classes possuidoras.” (Caio Prado Jr.). No fim da gestão Dutra, o café, acompanhando a alta geral de preços das matérias-primas e gêneros alimentares, experimentou considerável valorização. “O ano de 1950 trará para o Brasil um saldo comercial vultuoso reequilibrando-se, em consequência, as contas externas do país.” (Caio Prado Jr.)
Na política exterior, Dutra consolidou a aliança entre o Brasil e os Estados Unidos, colaborando ativamente na tarefa de aproximação continental, através da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em 1947, a cidade de Petrópolis sediou a Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e Segurança no Continente, prestigiada pela presença do Presidente dos Estados Unidos da América, Harry Truman. Nessa ocasião, assinou-se o Tratado de Assistência Recíproca e criou-se a Comissão Mista Brasil-Estados Unidos. A administração Dutra realizou ainda importantes obras: a pavimentação da rodovia Rio-São Paulo (Via Presidente Dutra), a abertura da rodovia Rio-Bahia e a instalação da Companhia Hidrelétrica do São Francisco, que iniciaria o aproveitamento da energia hidráulica fornecida pela cachoeira de Paulo Afonso. “A pasta da Agricultura intensificou a campanha do trigo nacional, melhorando a situação do abastecimento do Distrito Federal e de todo o país.” (José Maria Bello). Para a maioria dos historiadores, o período Dutra foi “uma cura de convalescença”, lembrando, nesse sentido, a gestão Wenscelau Brás, imediatamente posterior ao agitado período Hermes da Fonseca.
O retorno de Getúlio Vargas à presidência da República foi possível devido ao surgimento de novas lideranças na vida política brasileira durante o período Dutra. O general procurou, em vão, unir os partidos democráticos em torno de um candidato comum à sua sucessão. Vários nomes foram apontados, graças às costumeiras rivalidades e ambições pessoais de grupo e mesmo regionais. A UDN apresentou novamente como candidato o Brigadeiro Eduardo Gomes, acusado de ser “antipovo” e de ter chamado os pobres e operários de “marmiteiros”. O PSD, seguindo a velha estratégia político-eleitoral de escolher candidatos de estados ricos e influentes, indicou Cristiano Machado, antigo político mineiro e membro dos quadros pessedistas. Outros nomes foram cogitados: Adhemar de Barros que desfrutava de enorme prestígio pessoal em São Paulo, Plínio Salgado e até um membro do minúsculo Partido Socialista, João Mangabeira. “A divisão dos partidos e suas indecisões permitiam a possibilidade de uma outra candidatura - a de Getúlio Vargas, pelo PTB.” (José Maria Bello)
Inicialmente, o ex-ditador não acreditou na vitória; não confiava na força do PTB, por isso procurou um aliado em São Paulo: Adhemar de Barros, que possuía grande força eleitoral no PSP (Partido Social Progressista). “A rota aérea São Paulo-Rio Grande do Sul tornou-se mais frequentada. Litros de saliva foram gastos em conversações para atrair o candidato Adhemar de Barros a uma combinação.” (Leôncio Basbaum)
O esquema foi encontrado: aliaram-se o PTB e o PSD, ambos representantes do populismo; um membro do PSP, Café Filho, seria o companheiro de chapa de Getúlio, disputando a vice-presidência. Em contrapartida, os governos dos territórios, a prefeitura do Rio de Janeiro, alguns ministérios e todos os cargos de livre nomeação do presidente seriam ocupados por membros do PSP. Além disso, combinou-se também que a mesma máquina eleitoral populista que se formara apoiaria Adhemar nas eleições de 1955. O PSD, reconhecendo o dinamismo da candidatura Vargas, ordenou à sua máquina eleitoral que apoiasse o antigo ditador para não perder suas posições governamentais. A 03 de outubro de 1950, Getúlio Vargas foi eleito presidente da República, vencendo com extrema facilidade seus concorrentes: Eduardo Gomes, Cristiano Machado e João Mangabeira. “A UDN é mais uma vez derrotada e o PSD, com sua hábil manobra de sacrificar seu próprio candidato, continuava no governo.” (Leôncio Basbaum)
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