Estado, País e Nação - Conflitos regionais

  • Home
  • Estado, País E Nação Conflitos Regionais

Antes de se iniciar o estudo da Geopolítica, é necessário compreender a diferença entre Estado e nação.

Um estado é constituído por três elementos fundamentais: um território, uma população e um governo soberano. Onde há um território geograficamente delimitado, uma população que nele habita e um governo soberano que o governa, há um Estado.

Uma nação, por outro lado, é um grupo social cujos membros compartilham do mesmo idioma, das mesmas raízes culturais, do mesmo padrão básico de costumes e do mesmo passado histórico. Uma nação pode ou não compartilhar da mesma religião. É importante ressaltar que uma nação se define culturalmente – não racialmente. Exemplificando: os brasileiros formam uma nação mesmo que as origens étnicas do povo brasileiro sejam múltiplas: italiana, portuguesa, espanhola, japonesa, africana, etc.

O conceito de estado não deve ser confundido com o de nação. Estado significa unidade política, não necessariamente cultural. Há nações que não possuem seu próprio estado. Por outro lado, há países constituídos por várias nações. Isso significa que estado e nação nem sempre coincidem geograficamente.  É possível que uma única nação viva em mais de um estado. Um exemplo disso é a nação coreana, que habita dois países: Coreia do Norte e Coreia do Sul. Há também nações que não possuem seu próprio estado: por exemplo, os 21 milhões de curdos que vivem no Iraque, na Turquia, no Irã, na Síria e na Armênia. Os curdos são a maior nação do mundo sem estado próprio. Sofrem constantes perseguições e massacres. Foram massacrados pelo ex-ditador iraquiano, Saddam Hussein. No presente, estão sendo atacados pelo Estado Islâmico (EI). 

Atualmente a maioria dos Estados contém várias nações, com a grande maioria da população pertencendo à mesma nação. Isso pode ser visto no caso do Brasil que tem como minoria às nações indígenas.

Inúmeros conflitos mundiais derivam do fato que nações estão sobe o domínio político de outra nação. Estudaremos, nesta aula, conflitos derivados de minorias dentro de um Estado, Estados com duas nações predominantes e nações sem Estados.

Conflitos regionais

Um mapa cartográfico mostra o mundo com suas divisões políticas; linhas imaginárias desenhadas para representar as fronteiras de cada país.  Essas linhas são muitas vezes redesenhadas como vemos no caso da antiga Iugoslávia que originou as novas repúblicas da Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovênia e Macedônia. Alguns países também adotaram novos nomes desde sua independência como colônia, como é o caso da Rodésia que passou a se chamar Zimbabué. Vemos através dos conflitos que as fronteiras nacionais são móveis e são determinadas pela capacidade político-militar de ampliá-las e de as manter.

Em guerras e conflitos regionais, presenciam-se violações de direitos humanos. No dia 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas adotou a Declaração Universal dos Direitos do Homem, que compreende trinta artigos que enumeram os direitos humanos, entre eles, o reconhecimento da igualdade, dignidades e liberdade de todos os seres humanos, sem distinção de raça, cor, sexo, nacionalidade, condição financeira, etc. A Declaração proíbe escravizar, torturar ou prender alguém aleatoriamente. Declara que todos são iguais perante a lei e têm direito de uma audiência justa e pública em um tribunal independente e imparcial.

Esperava-se que o estatuto fosse seguido por todos os países, mesmo em situações de guerra. Infelizmente, a Declaração Universal dos Diretos do Homem é constantemente violada.

Problema Africano

Conflitos na África

O continente africano sofre por ter fronteiras arbitrárias que dividem os países. As fronteiras das atuais nações africanas foram fixadas pelos colonizadores europeus segundo seus exclusivos interesses. Em primeiro lugar, isso gerou a presença, no interior de um mesmo país africano, de formações tribais culturalmente diferenciadas e, quase sempre, inimigas umas das outras. Lamentavelmente, quando do processo de descolonização, a Organização da Unidade Africana (OUA) manteve essas fronteiras, temendo, em caso de alterações, que o caos reinasse sobre o continente. Além disso, os atuais limites são responsáveis por uma enorme fragmentação do espaço territorial, que, na maioria das vezes, impede a emergência de estruturas econômicas mais modernas e eficientes.

O conceito de Estado nacional (Estado-nação), próprio da formação política europeia, é totalmente estranho à mentalidade africana, cujos povos conheciam organizações sociais muito mais simples se comparadas com as do Ocidente. De fato, pouco há em comum entre a tribo africana e o Estado nacional. Essa foi uma imposição europeia às sociedades africanas. Ora, tais Estados artificiais enfrentam inúmeros problemas: etnias distintas agrupadas sob uma mesma organização política e a quase total ausência de uma consciência nacional, que somente atingiu um estágio embrionário durante o período das lutas anticoloniais. Em suma, os atuais países da África Negra são vítimas da ação de duas forças absolutamente opostas: de um lado, um aparelho de Estado "transplantado", de cunho modernizador e centralizador; de outro, uma estrutura tribal arcaica e particularista.

Dissolução da Iugoslávia

Acompanhando a onda do colapso do comunismo no leste europeu em fins da década de 80, nas primeiras eleições livres, realizadas em abril de 1990, os nacionalistas bateram os comunistas em todas as repúblicas, exceto na Sérvia e Montenegro. Em 1991, a Eslovênia e a Croácia procuraram a sua independência em relação à Belgrado. Quase imediatamente, o Exército Federal Iugoslavo, dominado pelos sérvios, atacou a Eslovênia. Como não havia minoria sérvia na região, os combates duraram apenas algumas semanas e os militares sérvios se retiraram. Em seguida foi a vez da Croácia onde 17% da população era de origem sérvia. Aí os conflitos foram sangrentos, com atrocidades de ambos os lados. Nesse primeiro momento da guerra servo-croata ocorreu a divisão do território croata em República da Croácia e República Sérvia de Krajina. Em 1992, ocorreu a catástrofe. Na Bósnia-Herzegovina, a população estava dividida em muçulmanos (44%), sérvios (32%) e croatas (16%). Embora culturalmente diferentes, essas comunidades, durante décadas, pareciam conviver bem. De repente, os sérvios iniciam a "limpeza étnica" (o uso do terror, de assassinatos e estupros para expulsar os habitantes não sérvios da região). Sarajevo foi cercada pelos sérvios e praticamente arrasada. As cenas de brutalidade e violência eram mostradas em todas as televisões do mundo, provocando indignação na opinião pública internacional. "Forças de paz" da Organização das Nações Unidas (ONU) foram inutilmente mandadas para a região. Em agosto de 1995, os croatas eliminaram a presença Sérvia em Krajina. Nesse mesmo ano, os Estados Unidos da América, diante da incompetência europeia para resolver a questão, promoveram o Acordo de Dayton, pacificando a Bósnia pelo envio de tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Dois anos depois, albaneses - população majoritária de Kosovo - passaram a ser vítimas da "limpeza étnica" sérvia – sofrendo um verdadeiro genocídio. Mais uma vez, o mundo assiste indignado à violência que se abatia sobre aquela província. Em março de 1999, as forças aéreas ocidentais atacam as tropas sérvias presentes em Kosovo, obrigando-as à retirada. Hoje, a Iugoslávia se limita a duas repúblicas: Sérvia e Montenegro.

Genocídio – exterminação física de uma etnia.

Etnocídio – eliminação da cultura de um povo, e não de sua existência física. O etnocídio nem sempre ocorre propositalmente. Ocorre quando um povo não respeita a cultura do outro e quer mudá-la.

Conflito na Irlanda

Há duas Irlandas: a República Irlanda (Eire)  e a Irlanda do Norte (Ulster), esta pertencente ao Reino Unido. A partir de 1968, aumentaram as ações terroristas do Exército Republicano Irlandês (IRA), forçando a intervenção britânica e, complicando a situação, deu-se a criação de grupos paramilitares protestantes.  Na Irlanda do Norte (Ulster), teve início uma guerra civil.  Os antagonistas são: de um lado, a maioria protestante que quer continuar vinculada ao Reino Unido e de outro, a minoria católica que deseja a integração com a Irlanda do Sul (Eire).

Em 1985, a Grã-Bretanha e a República da Irlanda assinaram um acordo que concedeu à República da Irlanda uma certa representação nos assuntos da Irlanda do Norte. Os dois governos esperavam que esse acordo, conhecido como o Tratado Anglo-Irlandês, viesse a assegurar os direitos da minoria católica na Irlanda do Norte. Contudo, extremistas de ambos os lados denunciaram o pacto e os grupos protestantes na Irlanda do Norte juraram nunca aceitá-lo.

O acordo de paz, o Acordo da Sexta-Feira Santa (Good Friday Agreement), foi assinado em 1998. É considerado um grande passo em direção à paz. O acordo determinou a criação de uma Assembleia da Irlanda do Norte, a libertação de presos políticos e a deposição de armas pelos grupos paramilitares. Pela primeira vez, há no Ulster um governo misto, constituído por católicos e protestantes.

Embora o IRA tenha renunciado ao terror e entregue parte de seu arsenal, grupos católicos dissidentes e radicais unionistas continuam a atuar e a ameaçar o processo de paz.

Índia

A Índia obteve a sua independência em 1947. Seu movimento nacional foi liderado por Mohandas K. Gandhi (conhecido como Mahatma Gandhi) e Jawaharlal Nehru. Porém Mohammad Ali Jinnah, líder dos muçulmanos no país, temia que seus correligionários se tornassem uma minoria perseguida numa terra dominada por hindus. Ele acreditava que a Índia deveria transformar-se em duas nações. O país sofreu uma divisão e foi formado o estado islâmico do Paquistão. Mas a repartição da Índia causou grande violência: aproximadamente 500.000 pessoas foram mortas, e mais de 11 milhões de hindus e muçulmanos tornaram-se refugiados, tentando imigrar de um país para o outro. Apesar de todo o derramamento de sangue e sofrimento, a criação do Paquistão não resolveu os conflitos religiosos no território indiano. Quase 50% dos muçulmanos que viviam na Índia permaneceram lá e não imigraram ao recém-estabelecido país islâmico. Este grupo representa a maior minoria religiosa na Índia - 12% da população do país.

Os hindus, ainda que compartilhando uma religião em comum, estão divididos em diversas seitas e são segmentados socialmente por milhares de castas. As diversas regiões geográficas da Índia são linguística e culturalmente distintas. Mais de doze línguas são faladas no país. Reconhecendo a existência de tamanha diversidade, os criadores da Constituição indiana buscaram reconhecer o pluralismo na nação garantindo direitos fundamentais, particularmente para a proteção de minorias. A Constituição garante liberdade religiosa e cultural, e permite o estabelecimento de instituições educacionais religiosas que não sejam hinduístas.

A Índia atual é definida por suas diversas identidades religiosas e por seus conflitos resultantes. O trauma da divisão (com a criação do estado do Paquistão) ainda é visível no país, e centenas de incidentes de violência entre grupos religiosos são registradas todo ano, principalmente entre as populações hindus e muçulmanas do país.

A Índia, maior democracia do mundo, é um estado oficialmente secular (laico), mas composto por pessoas de diferentes e fortes crenças religiosas. O desafio do governo não é de apenas conter a expansão da violência entre grupos religiosos no país, mas também de promover justiça, igualdade, e uma democracia legítima para todos os integrantes de sua sociedade pluralista. No entanto, incidentes violentos entre as duas religiões vêm atormentando o país, causando milhares de mortes.

Caxemira

O conflito na Caxemira reflete mais uma situação de conflitos étnicos e religiosos. A hostilidade entre os dois países fez com que ambos entrassem em uma corrida nuclear, investindo significativamente em programas de defesa nacional.

A Caxemira, região ao norte do subcontinente indiano, está atualmente dividida e sob o controle da Índia, do Paquistão e da China. Ao contrário do restante da Índia, cuja maioria é hinduísta, a Caxemira indiana tem maioria islâmica, tal qual o Paquistão.

Com a partilha da Índia e do Paquistão, uma parte da população predominantemente muçulmana da Caxemira queria que a região fosse anexada ao Paquistão. O Paquistão invadiu a região e Hari Singh, o marajá governante da Caxemira, pediu urgente apoio de tropas indianas para se defender. Em troca, o marajá assinou o Instrumento de Acesso à União Indiana onde a região se tornava parte do estado indiano de Jammu e Caxemira. O marajá, portanto, uniu a região à Índia, e não ao Paquistão.

A Índia enviou tropas à Caxemira, forçando os Paquistaneses a retrocederem. As tropas indianas e paquistanesas batalharam pela Caxemira, até que as Nações Unidas organizaram um armistício em 1949. O território foi dividido entre Índia e Paquistão. Como parte do acordo, a Índia se comprometeu a celebrar um plebiscito na região da Caxemira, porém o plebiscito não ocorreu.  

mapa - Paquistão

A Índia e o Paquistão lutaram duas guerras pelo controle de Caxemira, em 1965 e em 1971.

Em 1972 os dois países concordaram em cessar a violência. Porém um grupo separatista fundamentalista muçulmano surgiu no final da década em 1980 e o conflito continuou na região.  Grupos guerrilheiros passaram a lutar pela independência, recebendo apoio externo, incluindo homens de outras nacionalidades que se deslocaram para lutar na região. O fundamentalismo hindu também crescia e fortalecia o exército indiano.

A violência aumentou de 1999 a 2002, fazendo com que a Índia e o Paquistão aumentassem o número de tropas em suas fronteiras  comuns. Juntos, chegaram a mobilizar um milhão de tropas na região.

O ataque do dia 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas nos Estados Unidos fez com que o governo paquistanês buscasse se dissociar do fundamentalismo islâmico. Ambos países têm se esforçado para melhorar a situação diplomática entre eles.

Em novembro de 2003, concordaram em um cessar fogo e em restaurar uma relação diplomática, porém os grupos militantes continuaram a lutar, muitas vezes utilizando métodos terroristas.

Atualmente a Índia controla dois terços da região e acusa o Paquistão de treinar e armar os separatistas.

Desde 2010, a Índia e a Paquistão têm mantido conversações de paz.

O conflito na Caxemira é um dos grandes focos geopolíticos atuais, pois envolve países detentores de explosivos nucleares. 

DUAS POTÊNCIAS NUCLEARES

O conflito na Caxemira foi o principal responsável pela corrida armamentista nuclear entre a Índia e o Paquistão.

Conforme vimos na independência da Índia, parte de seu território se tornou o Paquistão e logo em seguida começou a luta pela região da Caxemira. Até hoje os dois países vivem em conflito e ambos construíram forças armadas modernas para se proteger. O Paquistão ficou bastante alarmado ao descobrir em 1974 que a Índia havia testado uma bomba atômica. O Paquistão, sentindo-se provocado, também desenvolveu tecnologia nuclear e realizou testes em 1988.

Em 1998, o governo indiano prometeu transformar a Índia  numa potência militar. A confirmação da Índia como potência nuclear veio alguns meses depois, a partir dos testes que realizou em maio de 1998. Os primeiros testes haviam sido iniciados em 1974. Além de uma força nuclear, o país já possuía mais de 1 bilhão de habitantes e um exército de mais de 1 milhão de homens.

O Paquistão já havia promovido testes nucleares causando  medo de uma possível corrida nuclear na turbulenta região. Vários países, com o intuito de pressionar a Índia e o Paquistão para abandonar seus programas nucleares, impuseram sanções econômicas em ambos países.

Houve um relaxamento da tensão entre os dois países durante os meses após os testes nucleares. Índia e Paquistão declararam uma pausa nesses testes  e entraram em negociações, patrocinadas pelos Estados Unidos. Algumas sanções foram levantadas como sinal de progresso. No começo de 1999, após meses de conversação, os líderes da Índia e Paquistão assinaram a Declaração de Lahore, na qual expressaram o comprometimento de ambos países em melhorar seu relacionamento. Porém, em abril do mesmo ano, ambos países começaram a testar mísseis de médio alcance capazes de carregar ogivas nucleares. A possibilidade de um confronto militar entre Índia e Paquistão, que, provavelmente incluiria armas nucleares, é uma fonte de preocupação para todo o mundo.

Tibete

A China ocupa o Tibete há 60 anos. Uma das consequências dessa ocupação chinesa é a existência de mais de cem mil refugiados tibetanos pelo mundo. Até hoje, as Nações Unidas nunca expressaram algum protesto significativo contra a ocupação do Tibete. Desde 1951, os tibetanos têm tentado se rebelar contra a ocupação chinesa, mas seus esforços não foram bem-sucedidos. A China alega soberania histórica sobre o Tibete, ameaçando assim a cultura e religião dos tibetanos. O líder político e espiritual do Tibete, o Dalai Lama, foi exilado de seu país, mas continua lutando - de forma puramente pacífica - para libertar sua nação do domínio chinês. Apesar da ocupação chinesa, o povo tibetano faz grandes sacrifícios para preservar sua cultura e religião.

Monte Everest, Tibete
Monte Everest, Tibete

A China tem o objetivo de modernizar o Tibete, pois espera que uma maior prosperidade no país eventualmente conquiste o apoio dos tibetanos à administração chinesa. O governo chinês possui um plano de desenvolvimento para a região e vem construindo prédios, realizando obras e substituindo a tradicional arquitetura tibetana por uma arquitetura moderna, deixando assim as províncias do Tibete cada vez mais semelhantes às cidades chinesas. Além disso, o Tibete está repleto de migrantes chineses que lideram importantes setores da economia. De fato, hoje há mais chineses que tibetanos vivendo no Tibete. Não é de se surpreender que os tibetanos temem que sua cultura e tradições estejam em perigo de extinção.     

Oficiais chineses no Tibete afirmam que os tibetanos têm completa liberdade religiosa. Porém, a polícia chinesa está sempre presente em mosteiros e em templos budistas. Os monges têm sido espancados, aprisionados e submetidos à educação política chinesa.

Contudo, a China vem recentemente demonstrado um pouco mais de flexibilidade em relação à sua ocupação do Tibete. A China tem o objetivo de apaziguar os tibetanos para melhorar sua imagem perante o mundo. Mas é duvidoso que a China esteja disposta a se retirar do Tibete. Apesar de contar com o apoio moral de pessoas no mundo inteiro, os tibetanos enfrentam uma grande luta para realizar seu sonho de soberania e independência nacional.

Ilhas Malvinas (Ilhas Falklands)

As Ilhas Malvinas são um arquipélago localizado a aproximadamente 500 km da costa argentina. As Ilhas Malvinas foram ocupadas pela Grã-Bretanha em 1883, tornando-se uma colônia britânica. No século 19, tanto a Grã-Bretanha como a Argentina as reivindicavam, e isso se tornou um motivo de tensão entre os países. Em 1982, tropas argentinas invadiram as Ilhas Malvinas. Após a invasão, a primeira-ministra britânica Margaret Thatcher enviou uma frota britânica para recuperar as Ilhas Malvinas, forçando as tropas argentinas a se renderem.

Os argentinos perderam a guerra, mas continuaram a reivindicar as Ilhas Malvinas. 

Israel

O Estado de Israel está situado em um território que já foi conquistado por muitos povos: assírios, babilônios, persas, gregos, romanos, árabes muçulmanos e turcos otomanos. O país, localizado na costa oriental do Mar Mediterrâneo, é conhecido como a Terra Santa. Para os judeus, a terra é santa porque lhes foi prometida por Deus; para os cristãos, porque Jesus, sendo judeu, lá nasceu e viveu; para os muçulmanos, porque Jerusalém é o local da subida do profeta Maomé aos Céus.

No ano 70 d.C., os romanos expulsaram os judeus de Israel e passaram a chamar o país de Palestina. Assim teve início à diáspora, que significa a dispersão dos judeus para outros países do mundo.  Contudo, apesar de terem sido conquistados pelos romanos, muitos judeus continuaram a viver na Palestina (antiga Israel). Desde então a perseguição a esse povo se evidenciou. Foram expulsos de quase todos os países da Europa, sofreram a Inquisição, e muitas outras formas de perseguição. Através dos séculos, um dos pontos fundamentais da fé judaica é que todo o povo será, um dia, liderado de volta à sua terra natal.

A ideia da criação de um estado judeu moderno começou a ganhar grande popularidade no século XIX, na Europa. Um jornalista austríaco, chamado Theodor Herzl, levou adiante a ideia do sionismo, definido como o movimento nacional de libertação do povo judeu. O sionismo afirma que o povo judeu tem direito ao seu próprio Estado, soberano e independente.

No final do século XIX, o aparecimento do antissemitismo, o preconceito e ódio contra judeus, levou ao surgimento de pogroms - o massacre injustificado e organizado de judeus - na Rússia e na Europa Oriental. Esta violência notória contra judeus europeus ocasionou emigrações maciças para a Palestina. Em 1914, o número de imigrantes da Rússia na Palestina já alcançava 100 mil pessoas. Simultaneamente, muitos judeus do Iêmen, Marrocos, Iraque e Turquia emigraram para a Palestina. Quando, em 1882, os judeus começaram a imigrar em grande escala, viviam por lá 250.000 árabes. As levas imigratórias se intensificaram com o crescimento do antissemitismo na Europa.

A história de descolonização na região explica muito dos conflitos pela posse do território. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), os ingleses, interessados em expulsar os turcos do Oriente Médio, fizeram três propostas contraditórias. Para os árabes propuseram que, se lutassem contra os turcos, a Inglaterra lhes daria uma "grande nação árabe independente", sob o domínio da família hachemita. Em novembro de 1917, buscando seduzir os judeus para a causa aliada, firmaram a "Declaração Balfour", onde se lia que Londres veria com bons olhos a criação de um "lar nacional judeu na Palestina" e, em 1915, os britânicos já haviam concluído com a França o "acordo secreto" de Sykes-Picot, pelo qual Londres e Paris dividiriam o Oriente Médio. Em 1918, com o término da Primeira Guerra Mundial e o fim do Império muçulmano, a região passou a constituir o Mandato Britânico. As promessas britânicas criaram um forte nacionalismo entre árabes e judeus.

Estado de Israel

Após o Holocausto e o massacre de seis milhões de judeus, em 1947, a ONU aprovou um plano de partilha da região - dividindo-a em um Estado judeu e um Estado árabe. Isto originou a criação do Estado de Israel, em 1948, e, desde então, o país se viu envolvido em guerras e conflitos com seus vizinhos árabes. Em 1948, o Estado de Israel foi atacado por seus vizinhos árabes. Vencendo a guerra, Israel expandiu seu território. A Jordânia e o Egito também foram responsáveis por anexar áreas reservadas ao Estado árabe.

Mapa do Estado de Israel em 1947
Mapa 1947

Durante o processo de criação do Estado de Israel e a primeira guerra entre o Estado Judeu e os países árabes, mais da metade da população árabe que vivia em Israel fugiu, dando início ao problema, ainda hoje vigente, dos refugiados palestinos.

Através das inúmeras guerras, o Estado de Israel foi conquistando territórios e se expandindo. Na Guerra de 1967, em que Israel lutou contra a Síria, o Egito e a Jordânia, os israelenses conquistaram territórios adicionais: Jerusalém Oriental, a Cisjordânia, as colinas do Golã e o Sinai. A partir de 1967, Israel passou a ter controle sobre a Cisjordânia e Gaza, até então controlados, respectivamente, por Jordânia e Egito.

Mapa do Estado de Israel em 1967
Mapa 1967

Em 1973, durante a Guerra do Yom Kipur, Egito e Síria voltaram a atacar Israel, mas foram derrotados novamente pelo Estado Judeu.

O Sinai foi devolvido aos egípcios em 1981, quando Israel e Egito firmaram um acordo de paz.

Atualmente

O termo "palestino" é utilizado para denominar os árabes que viviam na Palestina antes da criação do Estado de Israel. Vale lembrar que o plano de partilha proposto pelas Nações Unidas não foi implementado: a Cisjordânia, que constituiria a maioria do Estado Palestino, foi conquistada pela Jordânia durante a Guerra de Independência de Israel. Assim, a população árabe que vivia na Palestina antes da fundação do Estado de Israel foi absorvida pela Jordânia, pelo Egito (que conquistou a Faixa de Gaza) ou pelo Estado de Israel. Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel capturou a Cisjordânia e Gaza, milhões de palestinos passaram a viver em territórios controlados pelo Estado Judeu. A partir de então, iniciou-se o conflito entre israelenses e palestinos.

Calcula-se que hoje há 5,2 milhões de palestinos vivendo nos países árabes. Há também 4,5 milhões na Cisjordânia e Gaza e 1,5 milhão que se tornaram cidadãos de Israel.  

Na última década, as conversações de paz entre Israel e líderes palestinos tiveram avanços e recuos. A liderança oficial dos palestinos é a Autoridade Palestina, cujo denominação antes do Acordo de Oslo era OLP - Organização para a Libertação da Palestina. Acordos de Paz firmados entre Israel e palestinos são interrompidos por atentados e violência. O Hamas e a Jihad Islâmica, organizações terroristas, interessadas em sabotar a reconciliação entre judeus e árabes, promovem atentados terroristas.

É importante ressaltar que Israel se retirou da Faixa de Gaza.  No dia 11 de setembro de 2005, sob a liderança do primeiro-ministro Ariel Sharon, Israel encerrou sua retirada unilateral da Faixa de Gaza, que contém uma população árabe de quase 1,7 milhão de habitantes.

No dia 25 de janeiro de 2006, os palestinos realizaram eleições parlamentares e elegeram o grupo islâmico extremista, o Hamas. A vitória do Hamas, que clama pela destruição do Estado de Israel, constitui um grande obstáculo para qualquer negociação de paz. 

Do ponto de vista da Polemologia (a ciência que estuda a guerra), o confronto entre árabes e israelenses, além de aspectos econômicos, sociais e políticos, apresenta uma dimensão simbólica que complica as tentativas de paz. Um exemplo disso é Jerusalém: uma cidade que, em termos estratégicos, econômicos e políticos, nada significa; entretanto, para judeus e muçulmanos tem um significado incomensurável. De fato, Jerusalém é a mais sagrada cidade para o judaísmo e a terceira cidade em importância, após Meca e Medina, para o islamismo.

Áreas exclusivas para assinantes