Coesão, Coerência e Intertextualidade
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Coesão
Coesão significa ligação: a ligação entre palavras, orações e partes de um texto. Um texto com boa coesão significa um texto bem armado: as partes que o compõem estão unidas. A falta de coesão gera falta de clareza e de coerência. Um texto em que a coesão não é bem-feita pode resultar em ambiguidades.
Os marcadores de coesão
Coesão por anáfora
Pronomes, advérbios e numerais que recuperam um termo – palavra, frase ou parágrafo. São chamados de anafóricos.
Exemplo 1
Os acionistas não estão satisfeitos com o presidente da empresa, que deve renunciar até o final desta semana.
O relativo “que” é um anafórico: recupera o antecedente “presidente da empresa”.
Exemplo 2
O presidente dos Estados Unidos se reuniu com o Primeiro-Ministro da Grã-Bretanha para discutir como enfrentar o terrorismo internacional. Depois disso, declararam guerra contra o Afeganistão.
O anafórico “isso” retoma o período anterior: o fato de ambos os líderes se reunirem para discutir como enfrentar o terrorismo internacional.
Exemplo 3
Estados Unidos e Venezuela romperam relações diplomáticas. Os dois podem entrar em guerra.
O anafórico “dois” recupera tanto “Estados Unidos” como “Venezuela”.
Coesão por catáfora
Trata-se de pronomes, advérbios e numerais que, em vez de retomar, projetam um elemento que ainda aparecerá.
Por exemplo
Só desejo isto: que você sempre se lembre de mim.
Nesse exemplo, o pronome “isto” exerce função catafórica, pois se refere a algo mencionado posteriormente.
Coesão por sinonímia
Ocorre por meio de sinônimos e expressões sinônimas. Hiperonímia ocorre quando o conjunto substitui a parte. Hiponímia ocorre quando a parte substitui o conjunto.
Por exemplo
O principal desafio do mundo hoje é a luta contra o terrorismo, que é uma forma de ação política que emprega violência. Terroristas são pessoas que utilizam métodos violentos e cometem barbáries para ameaçar e aterrorizar a população de um país. Os terroristas empregam violência por motivos políticos ou religiosos. Há muitos países ao redor do mundo que abrigam terroristas. É extremamente difícil lutar contra terroristas, pois eles se escondem entre civis, indivíduos não militares.
Nesse texto, há palavras e expressões que estão em relação sinonímica:
Principal desafio: a luta contra o terrorismo: uma forma de ação política que emprega violência.
Terroristas: pessoas que utilizam métodos violentos para ameaçar e aterrorizar.
Civis: indivíduos não militares
A coesão por sinonímia permite não apenas estabelecer relações entre as partes e o texto, mas também, obter informações sobre os elementos envolvidos. O texto acima afirma que o principal desafio de hoje é o terrorismo: terroristas empregam métodos violentos e se escondem entre civis.
Eis um exemplo de hiperônimo:
Osama bin Laden está morto; os Estados Unidos não mais se preocupam com esse terrorista perigosíssimo.
No exemplo acima, “terrorista” é hiperônimo de “Osama bin Laden”. O termo “perigosíssimo” expressa um julgamento sobre o terrorista. Assim, além de informar, a coesão por sinonímia permite ao enunciador emitir sua opinião sobre as pessoas ou os fatos mencionados.
Coerência
O conceito de coerência está relacionado à compreensão – à possibilidade de interpretação do que se diz ou escreve. Orações, textos, obras literárias, conversas, artigos e discursos precisam ter coerência. A coerência é a compatibilidade semântica entre palavras, termos de uma oração, orações e partes de um texto. A coerência é também a compatibilidade semântica entre argumento e tese, argumento e realidade.
Eis alguns exemplos de textos em que não há coerência ou coesão.
Sem coerência e sem coesão
O jornal chegou. O leite ferveu. O time de futebol ganhou. As crianças foram para a escola.
As flores são bonitas. A situação no Iraque é crítica.
Há inflação no Brasil. Onde serão as Olimpíadas?
O texto acima não possui coesão, pois não há conectivos ligando as frases. As partes que compõem o texto estão soltas. Também não há coerência: cada frase aponta para um assunto diferente. Não há nenhuma unidade temática nesse texto.
Com coerência, mas sem coesão
A situação do país é crítica. Há o risco da volta da inflação. Há desemprego. Há desvalorização cambial. O governo é acusado de corrupção. A população está revoltada.
O texto acima possui coerência: é possível entendê-lo, pois trata de um mesmo tema: a difícil situação em que se encontra o país. Contudo, não há coesão. Suas orações não estão ligadas: o texto não foi bem armado. A menos que a falta de coesão seja um recurso estilístico, será entendida como um grave erro. Um texto como o acima nunca seria publicado em um jornal, pois apesar de haver certa coerência, é desprovido de coesão.
Sem coerência, mas com coesão
José foi ao supermercado comprar leite. O supermercado foi fundado em 1970. Na época, o Brasil era governado pela ditadura militar. Em 1970, o Brasil ganhou a Copa do Mundo do México, tornando-se tricampeão mundial. Contudo, a atuação do Brasil na última Copa foi vergonhosa. Perdemos para a Alemanha. Tal jogo nunca será esquecido pelos brasileiros. Acreditava-se que tal derrota influenciaria o país politicamente.
Esse texto possui coesão: há palavras que estabelecem a ligação entre as partes. Há vírgulas e conectivos empregados corretamente. Contudo, não há coerência no texto, pois cada período aponta para um assunto diferente. O texto começa relatando que José foi ao supermercado. Em seguida, menciona em que ano foi fundado o supermercado. Depois disso, comenta sobre a ditadura militar e a Copa de 1970. Finalmente, relata o fato de o Brasil ter sido derrotado pela Alemanha. Não há textualidade no texto, isto é, não dá para entendê-lo. Para que um texto seja entendido, não basta que haja coesão. É necessário que também haja coerência.
Formas de Coerência
A coerência pode ser tanto externa como interna.
Coerência externa
Há coerência externa quando o que está no texto é compatível com a realidade – os fatos históricos, os dados estatísticos, o conhecimento científico, etc.
Observe os seguintes exemplos:
Os Estados Unidos se localizam na Europa.
A Matemática é um Ciência Social inútil.
A Segunda Guerra Mundial ocorreu já 500 anos.
Há falta de coerência externa nas três frases acima. Sabemos que os Estados Unidos se localizam na América do Norte, que a Matemática é uma Ciência Exata com inúmeras aplicações e que a Segunda Guerra Mundial ocorreu durante os anos 1939-1945.
É fundamental que haja coerência externa em frases e textos, principalmente em textos dissertativos.
Coerência interna
Há coerência interna quando os elementos pertencentes ao texto são compatíveis entre si. Há vários tipos de coerência interna.
Coerência no nível sintático-semântico
Ocorre quando termos pertencentes à mesma frase ou período possuem compatibilidade de sentido e se relacionam sintaticamente.
Nos exemplos a seguir, observe a falta de coerência interna.
Exemplo 1
Os juros não serão elevados, desde que a situação econômica do país esteja em boas condições físicas.
Há falta de coerência interna, pois “boas condições físicas” é incompatível com o substantivo “situação”.
Exemplo 2
O amor é tudo na vida, mas há outras coisas importantes também.
Há falta de coerência interna nessa frase, pois se o amor é tudo, nada mais é importante.
Coerência no nível de linguagem
Ocorre quando os níveis de linguagem, tanto o coloquial como o culto, estão adequadamente empregados.
Veja abaixo um exemplo da falta desse tipo de coerência:
“Mano, me empresta uns dois contos, por obséquio”.
Nessa frase, o enunciador atribui, a um mesmo falante, termos cultos (“por obséquio”) e coloquiais (“Mano” e “uns dois contos”).
Coerência na narrativa
Trata-se da compatibilidade de sentido entre os elementos que constituem a narrativa: personagens, tempo, espaço, etc.
No texto a seguir, há falta de coerência na narrativa.
Carlos sempre quis ser médico. Seu maior desejo na vida é trabalhar para ajudar as pessoas e salvar vidas. Os pais de Carlos não o obrigam a estudar. Todos os dias, quando ele volta da escola, ele come um lanche, bebe um suco de laranja e já começa a estudar. Os professores de Carlos o adoram. Além de muito esforçado e inteligente, ele é um jovem muito educado e gentil. Os professores de Carlos acreditam que ele ganhe o Prêmio Nobel de Medicina deste ano.
A falta de coerência na narrativa é evidente. O personagem é um jovem que ainda está na escola. O texto não diz se está cursando o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio, mas o fato de ele “voltar da escola” deixa claro que ele ainda não ingressou na faculdade. O fato de o texto afirmar que os professores de Carlos esperam que ele receba o Prêmio Nobel de Medicina deste ano é uma afirmação absurda. Há, portanto, falta de coerência nessa narrativa.
Coerência no nível da argumentação
A coerência no nível da argumentação ocorre quando há no texto uma progressão lógica: os argumentos sustentam a tese do enunciador.
Observe a falta de coerência que há nos textos a seguir.
Esse candidato não se elegerá porque ele costuma usar gravatas azuis.
Eu não apoio a pena de morte no Brasil porque o preço do tomate está em queda.
Em ambos os casos, o argumento não sustenta a tese. Qual a relação entre a cor da gravata de um candidato e sua elegibilidade? Qual a relação entre a pena de morte e o preço do tomate? O argumento precisa sustentar a tese. Quando a relação entre o argumento e a tese não é clara, cabe ao enunciador esclarecê-la. Por exemplo, se gravatas azuis indicassem alguma posição política ou ideologia, seria possível fazer uma ligação entre a cor da gravata do candidato e sua elegibilidade. Caso contrário, trata-se de falta de coerência no nível de argumentação.
Coerência temporal
A coerência temporal ocorre quando há uma progressão temporal coerente com os fatos assinalados no texto.
Nos exemplos a seguir, há falta de coerência temporal.
Mariana se vestiu, entrou no chuveiro, fez café, saiu do chuveiro e se ensaboou.
O avião decolou, os passageiros adentraram a aeronave e apertaram os cintos, o avião pousou e a aeromoça serviu lanche e refrigerante para todos a bordo.
Em ambos os textos, a ordem dos fatos gera incoerência.
O correto seria:
Mariana entrou no chuveiro e se ensaboou; saiu do chuveiro, vestiu-se e fez café.
Os passageiros adentraram a aeronave e apertaram os cintos. O avião decolou. A aeromoça serviu lanche e refrigerante para todos a bordo. O avião pousou.
Intertextualidade
Um dos fenômenos relativos à coerência mais testados nas provas de vestibular é a intertextualidade. Ela ocorre quando um texto faz referência – implícita ou explícita – a outro texto.
Obras científicas remetem explicitamente a autores reconhecidos, garantindo, assim, a veracidade das afirmações. A maioria das conversas faz alusões às inúmeras considerações armazenadas em nossa mente. Jornais e revistas estão repletos de referências já supostamente conhecidas pela maioria dos leitores. A leitura de obras literárias nos aponta para outras obras.
À luz dessa realidade, a compreensão de textos depende muito da experiência de vida, das vivências e das leituras.
Quando há intertextualidade, o texto pode estabelecer diferentes relações.
Exemplos
1. paráfrase: Esse tipo de relação intertextual consiste em reproduzir um texto ou parte dele com outras palavras. Contudo, a ideia original do texto não é alterada. O sentido original é mantido.
2. estilização: A estilização ocorre quando um texto se baseia em outro, complementado o seu sentido, mas não há a exata manutenção do sentido do texto original, como há na paráfrase. Em vez disso, recria-se uma obra, trazendo a ela um estilo próprio. Contudo, não há a inversão de sentido, como há na paródia.
3. paródia: A paródia inverte o sentido original, com objetivo crítico, humorístico ou subversivo. O texto original é retomado, mas seu sentido é alterado. É geralmente marcado por ironia.
4. citação: Há a reprodução, parcial ou integral, de outro texto. A citação é normalmente marcada pelo uso de aspas.
5. hipertexto: Um tipo de texto maior formado por vários outros elementos textuais, que permite a leitura em várias direções. Exemplos de hipertexto: os “links” em páginas da Internet, notas de rodapé, verbetes de enciclopédias, etc.
A intertextualidade também pode ser realizada por meio do estilo. Isso ocorre quando um autor reproduz o estilo de outro. Vale lembrar que a intertextualidade não aparece apenas em textos literários. A propaganda, o jornal e a música também utilizam esse recurso.
Sumário
- Coesãoi. Os marcadores de coesão
- Coerência
i. Formas de Coerência
- Intertextualidade


