Linguagem

Língua e Linguagem   

O ser humano é naturalmente o mais agente dos seres. É dotado de certa capacidade para estabelecer processos de comunicação com seus semelhantes. Não se trata de uma comunicação instintiva, mas raciocinada, pensada, oriunda de sua volição, ou seja, de sua própria vontade. Tal é a capacidade da linguagem. 

O Dicionário de Linguística (Cultrix) informa:

"Linguagem é a capacidade específica à espécie humana de comunicar por meio de um sistema de signos vocais (ou língua*)..."

Nota:

Há outros tipos de linguagem que não estão relacionadas à língua ou idioma: a da Música, da Pintura, da Escultura, da mímica, entre outras.

Consciente dessa capacidade, o homem cria instrumentos de comunicação, ou seja cria linguagens, através das quais engrena os círculos sociais. Segundo o linguista Émile Benveniste, chamamos linguagem a um "sistema de signos socializado"; isto quer, muito provavelmente, dizer  um conjunto de material de comunicação conhecido e reconhecido por determinada sociedade.

Nota:

O signo linguístico é um elemento físico intelectual da comunicação. É físico porque é apreensível por um dos sentidos (visual, táctil ou auditivo). É intelectual porque se associa a um conceito corrente numa determinada sociedade. Chama-se à parte física significante. O conteúdo apreendido pelo usuário, o sentido, chama-se significado. Assim o signo compõe-se de duas partes indissociáveis: significante + significado = signo. O signo é um ente arbitrário, como se ilustra a seguir:

signo linguístico

Nosso estudo está restrito a um tipo de linguagem: a linguagem verbal. A linguagem verbal sempre se manifesta através da palavra (do latim: verbum,i). O conjunto das palavras forma o inventário de uma língua. 

Nota:

Já foi dito que existem sistemas de comunicação alheios ao uso da palavra.

sistemas de comunicação alheios ao uso da palavra

Língua e Fala

Primeiramente não se devem confundir os conceitos de língua e de fala. A língua é um instrumento de comunicação, um sistema de signos gráfico-vocais específicos aos membros de uma mesma comunidade. Dissemos gráfico-vocais no sentido de que uma língua pode materializar-se gráfica ou oralmente (adaptado do Dicionário de Linguística, Cultrix). São línguas o Português, o Inglês, o Chinês, o Italiano. Cada uma dessas línguas é comum a certo grupo social com cultura própria, particular.

A fala, por sua vez, é o uso individual da língua. O falante empresta à língua suas características pessoais: ênfases, formas de expressão, coerência ou incoerência com o sistema gramatical imposto oficialmente. Desta forma, a língua dentro de uma comunidade, de um grupo social identifica esse mesmo grupo, diferenciando-o de outros grupos sociais. Eis uma das origens dos preconceitos, das discriminações. Chama-se língua padrão aquela imposta pela sociedade dominante; esta dá origem a uma gramática padrão, tomada como oficial.

Toda forma de expressão de uma língua tem uma gramática, uma vez que todo falante tem uma gramática internalizada.

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VARIAÇÕES LINGUÍSTICAS: O HOMEM COMO INDIVÍDUO

A sociedade, do ponto de vista cultural não é homogênea, seja no aspecto geográfico, seja no aspecto social, especificamente dito. Essa variedade cultural gera uma variedade quanto ao uso de uma mesma língua. Um cidadão português da Ilha da Madeira usa um Português diferente daquele originário de Lisboa. O brasileiro do Rio Grande do Sul tem linguajar diverso do brasileiro paulistano e assim por diante. A língua pode ser a mesma, todavia, submetida a influências regionais, intelectuais e sociais. Daí o reconhecimento dos mais variados dialetos.

Vários são os fatores de variações linguísticas, além disso, vale lembrar que a língua não é estática e se acomoda ao tempo, ao processo histórico, à mudança da sociedade.

Leia o que Carlos Drummond de Andrade notou sobre essas alterações de linguagem e de comportamento no texto seguinte, cujo fragmento tomamos da transcrição feita pelo professor Mauro Ferreira em seu livro Aprender e Praticar Gramática:  

ANTIGAMENTE
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não sendo rapagões, faziam-lhes pé de alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levavam tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em outra freguesia, (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomavam cautela de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao animatógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em calças pardas; não admira que dessem com os burros n’água.
(...) Embora sem saber da missa a metade, os presunçosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo, insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pitar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros cromos, umas teteias.
(...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os meninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam ceroulas, botinas e capas de goma (...) Não havia fotógrafos, mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
Mas tudo isso era antigamente, isto é, outrora.

Sumário

- Língua e Fala
- Variações Linguísticas: O Homem como Indivíduo

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