A República Popular da China
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A REPÚBLICA POPULAR DA CHINA: ASPECTOS FÍSICOS, HISTÓRIA E GEOPOLÍTICA
A República Popular da China é o país mais populoso do mundo, com mais de 1,38 bilhão de habitantes – quase um quinto da população mundial. A China, oficialmente República Popular da China desde 1949, é uma república socialista e autoritária. O país é governado pelo Partido Comunista da China (PCC) – o único partido chinês.
A Ásia, com uma extensão de 44 milhões de quilômetros quadrados – aproximadamente 30% das terras imersas do globo - é o maior continente do planeta, apresentando climas, relevos e paisagens botânicas muito diversificadas.
OS LIMITES GEOPOLÍTICOS
A China, cuja área é de 9.596.961 km², tem como limites:
- NORTE - Mongólia
- NORDESTE - Rússia
- LESTE - Coreia do Norte, Mar Amarelo e Estreito de Formosa (Taiwan)
- SUL - República Democrática do Vietnã, Laos, Butão e Mianmá (ex-Birmânia)
- OESTE - Paquistão, Tadjiquistão e Quirguízia
- SUDOESTE - Índia e Nepal
- NOROESTE - Cazaquistão
O RELEVO
O relevo chinês apresenta enormes contrastes altimétricos.
OESTE - cordilheiras e planaltos que descem em direção a leste, destacando-se a Cordilheira do Himalaia, com altitudes superiores a 4.000 m
NOROESTE - os planaltos da Ásia Central, com destaque para o Sin Kiang, de estrutura sedimentar, onde estão presentes bacias hidrográficas sem escoamento para o mar, fundamentalmente o rio Tarim
NORDESTE - o planalto da Mongólia interior contorna o deserto de Gobi, onde se localiza a planície da Manchúria
CENTRO-OESTE - o planalto do Tibete
LESTE - extensas planícies aluviais cortadas por grandes rios, como o Rio Amarelo (Huang Ho), com solos extremamente férteis
SUDESTE - a planície da China setentrional, marcada pela presença do Rio Azul (Tsé-Kiang) e dos baixos planaltos da Bacia Vermelha
AO SUL DO RIO YANG TSÉ-KIANG (AZUL) - planaltos rebaixados e inúmeras pequenas bacias fluviais
HIDROGRAFIA
Os grandes rios chineses são:
RIO AMARELO (HUANG HO) - nasce nas áreas montanhosas do Tibete e deságua nas proximidades de Nanquim
RIO AZUL (YANG TSÉ-KIANG) - com 5.500km, também proveniente do Tibete, deságua entre Nanquim e Xangai
CLIMA E VEGETAÇÃO
Os fatores que determinam o clima chinês são:
- Continentalidade
- Ventos monçônicos
- Variação latitudinal das altitudes
Na região do Tibete, as montanhas de grande altitude barram grandes massas de ar frio, o que implica uma baixa pluviosidade e a presença de uma vegetação típica das estepes. Em Sinkiang, a continentalidade e a barreira formada por relevos elevados determina climas desértico e semidesértico. Quando do verão, o degelo das montanhas forma rios temporários (ueds) e oásis, habitados por tribos nômades. Em toda a área da Mongólia interior, o clima predominante é o desértico frio. Na realidade, 40% do território chinês são marcados pela aridez ou, no melhor dos casos, pela semiaridez.
No nordeste, as planícies existentes são vitimadas por ventos glaciais oriundos da Sibéria, apresentando clima temperado do tipo continental, caracterizado por grandes amplitudes térmicas ao longo do ano, enormes diferenças de temperatura entre o verão e o inverno e chuvas irregulares. O cenário botânico é composto, fundamentalmente, por florestas de coníferas e estepes geladas.
Em todo o país, o clima sofre uma grande influência das massas de ar. Durante o inverno, os ventos polares, provenientes da Sibéria, e a massa continental fria e seca determinam as condições climáticas. Já no verão, diminui a massa polar e a massa continental se desloca para a extremidade norte, fazendo com que o território chinês seja alvo de uma quente e úmida massa oceânica, que se apresenta sob a forma de ventos monçônicos. Em resumo, o sudeste e o sul conhecem altas temperaturas ao longo do ano inteiro, inexistindo períodos efetivamente secos, pois as chuvas aumentam na época das monções, chegando a atingir mais de 2.500mm anuais. Aí, o panorama botânico mostra uma bela paisagem de florestas tropicais. O cultivo do arroz é possibilitado pelas cheias de verão que inundam deltas fluviais, onde se concentra a grande maioria da população chinesa.
Climas variados determinam paisagens vegetais diversificadas, como se pode observar no mapa abaixo.
UMA CIVILIZAÇÃO MILENAR
A China (termo que significa o “Império do Meio” ou o “Centro do Mundo”), uma das mais antigas civilizações do planeta, conheceu, ao longo de sua história, um duplo e antagônico processo: por vezes, o país inteiro se agrupava ao redor de um governo central; em outros momentos, conflitos internos provocavam uma quase total desintegração. Alguns sinólogos (denominação dada aos peritos em assuntos chineses) dão a esse processo o nome de “a teoria do nó”, pois, em certos períodos, a nação chinesa estava atada por uma administração centralizadora, períodos esses seguidos por um caótico desatar e a emergência de poderes regionais nas mãos dos “warlords”, “senhores da guerra”, que possuíam exércitos particulares, exercendo o mando político em moldes feudais.
O Estado chinês se consolidou há aproximadamente 2.200 anos, sob o Imperador Qin Shihuan, que, na ocasião, implantou o sistema único de escrita baseado em ideogramas, até hoje prevalecente no país. O significado dessa inovação foi a unificação da grafia numa nação na qual eram falados centenas de idiomas. Agora, embora mantendo suas próprias línguas, os chineses podiam ler os mesmos textos. No quadro abaixo, resumiremos as primeiras fases da história chinesa:
OS PRINCIPAIS MOMENTOS DA VELHA CHINA |
DINASTIA TANG (618 – 907) - restabelecimento da unidade chinesa após um longo período de fragmentação política; a unidade refeita permitiu a criação de uma civilização sofisticada e refinada |
DINASTIA SONG (960 – 1279) - grande desenvolvimento artístico e tecnológico, superior a qualquer outra sociedade da época |
UM FEITO TÉCNICO - a partir do século 3 a.C., os chineses, visando impedir invasões militares provenientes do norte, levaram a efeito a construção da Grande Muralha, com 5.000 km de extensão. Em 1276, os mongóis, encabeçados por Gêngis Khan, superaram essa barreira defensiva e tomaram a China que foi por eles governada até 1368 |
UMA REVOLUÇÃO CULTURAL - marcou profundamente a cultura chinesa a figura de Confúcio (Kung Fu-Tze), filósofo cujos princípios básicos eram: a responsabilidade social de todos os indivíduos; o papel fundamental da família na comunidade; a honestidade no trato dos assuntos de Estado; o respeito aos mais velhos e a importância da lealdade. Na mesma época, o pensador Lao-Tse escreveu a obra fundamental do “taoismo”, cujo titulo é “Tao Te Ching” (“O Caminho da Virtude”), que valoriza a naturalidade, a simplicidade e a espontaneidade |
SÉCULO XIII - contatos com o Ocidente, iniciados com a chegada à China do mercador veneziano Marco Polo |
SÉCULO XVI - navegadores portugueses fundam, em território chinês, o enclave de Macau |
DINASTIA QUING (1644 – 1911) - provenientes da Manchúria, os Imperadores Quings submeteram os diversos povos locais e moldaram, em termos básicos, o território da China moderna. Além disso, no século XVIII, a dinastia Manchu, além de propiciar um grande desenvolvimento econômico e cultural, expandiu o império, transformando a Coreia, a Indochina, o Sião (hoje, Tailândia), o Nepal e a Birmânia (atualmente, Mianmá) em estados vassalos |
CONFLITOS - a expansão chinesa, além de exigir enormes recursos financeiros, entrou em choque com interesses geopolíticos de outras potências: na região sudeste, o governo de Beijing esbarrava com a França que então controlava a Cochinchina (depois, Indochina Francesa); ao sul, a presença chinesa incomodava a Inglaterra, que, na ocasião, dominava a Índia; e, ao norte, eram frequentes os conflitos com o Império Russo |
PROBLEMAS ECONÔMICOS - a vida comercial chinesa era vítima de um excessivo controle estatal, que dificultava o crescimento econômico. As principais rotas mercantis eram: ao sul, Cantão, “porta de entrada” dos produtos da Europa Ocidental; na região setentrional, o comércio com a Rússia passava por Kiakhta. Os principais produtos chineses então exportados eram: seda, porcelanas, soja, chá, laca e ópio. |
PROBLEMAS ADMINISTRATIVOS - ineficiência burocrática e corrupção na Corte, no Exército e nos quadros administrativos. Progressivamente, proliferaram rebeliões regionais, em sua maioria provocadas por grupos étnicos minoritários |
Já no início do século XIX, o Estado imperial chinês, em função de seus problemas internos, experimentava enormes déficits na balança comercial. Além de um grave surto inflacionário, que provocou a queda do preço da prata – então usada como moeda, a China tornou-se praticamente dependente de um só produto de importação: o ópio. Era cada vez mais evidente, para os analistas da realidade chinesa, que a Dinastia Quing estava em franca decadência, expressa pela crescente perda de territórios. Nesse contexto, a China foi obrigada a enfrentar um poderoso inimigo: a Grã-Bretanha.
A PRIMEIRA GUERRA DO ÓPIO (1839 –1842) |
CAUSAS DO CONFLITO - em 1820, os ingleses haviam obtido a exclusividade das operações comerciais no porto de Cantão. Importador de seda, chá e porcelana, então em moda no continente europeu, a Inglaterra conhecia um grande déficit comercial em relação à China. Para compensar suas perdas, a Grã-Bretanha vendia ópio indiano para o Império do Meio (China). O governo de Beijing resolveu proibir a transação da droga. Isso levou Londres a declarar guerra à China |
1839 – 1942 - a marinha e o exército britânicos, dotados de armamento moderno, venceram com facilidade as tropas chinesas |
CONSEQUÊNCIAS DA VITÓRIA - a China foi obrigada a entregar 5 portos livres para o comércio britânico, além de conceder o território da ilha de Hong Kong |
Em 1853, o trono chinês foi abalado pela rebelião de Taiping, quando rebeldes controlaram, durante 11 anos, grande parte do território meridional do país, sendo esmagados com o apoio de tropas ocidentais. Apesar de todos os percalços, a China continuava a comprar grandes quantidades de ópio, que se tornaram um vício nacional, remetendo prata para o ocidente, o que empobrecia ainda mais a nação. Em 1856, eclodia a Segunda Guerra do Ópio.
A SEGUNDA GUERRA DO ÓPIO (1856 – 1860) |
CAUSA BÁSICA - interesse ocidental em submeter definitivamente a China ao domínio imperialista |
O CONFLITO - tropas anglo-francesas tomam Beijing (Pequim) |
CONSEQUÊNCIAS - o governo chinês foi obrigado a assinar um acordo pelo qual mais sete portos eram abertos ao comércio internacional. Além disso, era concedida permissão para implantação de missões religiosas cristãs no território chinês |
A decadência da dinastia Manchu teve continuidade com perdas territoriais para o Império Russo, então em momentâneo expansionismo:
PERDAS CHINESAS PARA OS RUSSOS |
1858 - os russos controlam as margens setentrionais do rio Amour |
1864 a 1871 - perda de toda extensão noroeste do Sin-Kiang |
1897 - perda da Manchúria |
1912 - a região setentrional de Tannoutouva torna-se protetorado russo |
1912 - a Mongólia se separa da China, tornando-se socialista em 1921, sob tutela soviética |
No final do século XIX, o Japão elabora um plano de expansão imperial, buscando controlar parte do Pacífico e o sudeste asiático, regiões que compreenderiam, na terminologia nipônica, a “Esfera da Co-prosperidade Asiática”. Em 1894, após humilhante derrota militar, a China perde a Coreia e o Japão ocupa a Ilha de Taiwan (Formosa). Antes disso, ainda em 1885, a China cede a Indochina à França. Em 1896, a Birmânia passa ao controle britânico.
Esse agudo processo de decadência provoca uma frustrada tentativa de reação: em 1900, um grupo nacionalista chinês, os Boxers, tenta expulsar as nações imperialistas, cercando, por 55 dias, o bairro ocidental de Beijing. Mas os Boxers acabam sendo trucidados por tropas ocidentais e japonesas.
Os malogros externos, os conflitos internos, os constantes surtos de fome e a corrupção e ineficiência administrativas levaram a Dinastia Quing à decadência final. Em 1911, o Partido Nacionalista (Kuo-Min-Tang, Partido do Povo) derruba o Trono e, liderado pelo doutor Sun Yat-sen, proclama a República.
O Kuo-Min-Tang era uma agremiação partidária formada por jovens intelectuais anti-imperialistas, mas de formação cultural ocidental: seus objetivos eram expulsar o ocidente da China, mas, simultaneamente, modernizá-la segundo padrões europeus. Essas propostas democráticas desagradavam às velhas lideranças militares chinesas, os “senhores da guerra” (“warlords”), e, em consequência, a China foi vitimada por uma guerra civil, na qual as diversas áreas do país foram disputadas por chefes militares regionais, sempre apoiados por potências estrangeiras, interessadas em abafar os ímpetos nacionalistas dos partidários de Sun Yat-sen.
Em 1921, em Xangai, era fundado o Partido Comunista da China, que, num primeiro momento, aliou-se ao Kuo-Min-Tang, ajudando-os a enfrentar os chefes militares locais. Em 1927, o Partido Nacionalista, vitorioso na guerra civil, massacrou mais de 40 mil lideranças comunistas. Como represália, o líder vermelho Mao Zedong (Mao Tse-tung), que propunha uma revolução campesina para socializar a China, deu início a uma Revolução nascida no campo. O líder do Kuo-Min-Tang, o generalíssimo Chiang Kai-shek, deu violento combate aos comunistas, forçando-os a uma longa e dolorosa retirada para as áreas montanhosas do norte, episódio conhecido como “A Longa Marcha” (1934).
Em 1937, o Japão atacou a China, obrigando o governo a firmar um acordo com os comunistas, formando uma “frente ampla” contra os nipônicos. Esse acordo nem sempre foi cumprido, sendo intermitentemente violado: um absoluto caos tomou conta da China. Por vezes, comunistas e nacionalistas combatiam o Japão; de quando em vez, lutavam entre si.
A INVASÃO NIPÔNICA
Entre os anos de 1937 e 1941, o avanço japonês na China foi fulminante. Em Xangai, as tropas do Império do Sol Nascente (Japão) cometeram inenarráveis atrocidades, inclusive atacando a Zona Internacional da Cruz Vermelha, que abrigava as comunidades estrangeiras da cidade. A própria capital, Beijing, caiu sob ocupação nipônica. O governo nacionalista, encabeçado por Chiang Kai-shek, estava à beira do total colapso, apesar do apoio de pilotos americanos que se apresentaram como voluntários das famosas esquadrilhas dos “Tigres Voadores”. Em dezembro de 1941, o Japão atacava a base aeronaval norte-americana em Pearl Harbor: os EUA entravam na Segunda Guerra Mundial. Rapidamente, bilhões de dólares vieram reforçar os exauridos cofres do governo chinês, agora apoiado por boa parte da população nacional em função das atrocidades japonesas. Através da famosa estrada denominada a “Rota da Birmânia” e por meio de uma “ponte aérea”, os EUA abasteciam e alimentavam o esforço de guerra chinês. Em 1945, com a derrota do Japão, o governo nacionalista ganhou, pelo menos aparentemente, um novo impulso, graças aos seguintes fatos:
- Retomada dos territórios tomados pelo Japão, inclusive Beijing
- Reconhecimento internacional como nação vencedora da Segunda Guerra Mundial
- Membro fundador da Organização das Nações Unidas, ocupando cargo permanente no Conselho de Segurança daquela entidade
- Participação em todas as conferências internacionais do pós-guerra
Contudo, Chiang Kai-shek tinha de fazer face a um grande problema: os comunistas.
A REVOLUÇÃO VERMELHA
A TOMADA DO PODER
Findo o conflito mundial, reinicia-se a guerra civil entre o Exército Regular e o governo nacionalista e as milícias guerrilheiras comunistas de Mao Zedong. Já em 1946, o Partido Comunista Chinês, que controlava a maior parte do nordeste do território chinês, levava a efeito intensa guerra de guerrilha na extremidade meridional do país. A corrupção generalizada dos militares, os erros táticos – fundamentalmente a concentração de forças nas áreas urbanas, deixando os campos em mãos comunistas, a grande extensão do país, o apoio campesino aos vermelhos e a brutal inflação, que então assolava a China, facilitaram a vitória comunista. No dia 1º de outubro de 1959, Mao Zedong entrava em Beijing, fundando a República Popular da China. Para fugir à total derrota, o governo nacionalista instalou-se em Taiwan (Formosa), recriando a República da China, com capital em Taipé.
“No segundo semestre de 1947, começa a contraofensiva estratégica do Exército Popular de Libertação (EPL). Na Manchúria, as tropas comandadas por Lin Biao lançam-se ao ataque, secundadas pelas forças de Liu Bo-Cheng e Chen Yi, que atravessam o rio Amarelo e ameaçam as províncias centrais da China. Em junho de 1948, os comunistas reúnem 3 milhões de soldados regulares e as “áreas libertadas” abrangem 168 milhões de habitantes. Numa primeira fase, os comunistas concentram-se em “aniquilar” as forças armadas inimigas, colocando num plano secundário a ocupação de territórios ou cidades. Mais tarde, a partir do segundo semestre de 1948 e, gradualmente, começaram a atacar cidades médias e grandes, passando para a guerra de posições. Em fins de 1948 e começo de 1949, realizam-se três grandes e decisivas batalhas: a da Manchúria, de setembro a novembro de 1948; a do rio Huai, entre novembro de 1948 e janeiro de 1949; e a do norte da China, entre dezembro de 1948 e janeiro de 1949. As forças do Exército Popular de Libertação saem vitoriosas, ocupando as cidades da Manchúria e importantes centros urbanos e industriais no norte e no centro da China. Em janeiro de 1949, caíram Kalgan, Tientsin e Beijing. A sorte da guerra estava decidida – em abril os comunistas atravessam o Yangzi e ocupam Nanquim; em maio foi a vez de Shangai; em outubro, finalmente, Cantão passa às mãos dos comunistas. Desde o início de 1949, Chiang Kai-shek partira para Taiwan, onde instalaria o “seu” governo.
Os comunistas tentaram adequar-se ao ritmo vertiginoso das vitórias militares. A principal preocupação foi alargar ao máximo a frente social e política contra o Kuomintang. Os revolucionários criticaram os “excessos” verificados na aplicação da Lei de Reforma Agrária (perseguição aos médios camponeses, arbitrariedades em geral etc.) e restringiram seus efeitos às “velhas” áreas libertadas, ou seja, àquelas que já existiam como tal durante a guerra antijaponesa. Em relação às áreas libertadas depois de agosto de 1947 (chamadas de “novas”), a política agrária seria bem mais flexível (limitações do direito de cobrança de arrendamentos, diminuição das taxas de juros e impostos progressivos, segundo a riqueza de cada um). Também em relação às cidades, a política seria bastante moderada: apelos à concórdia, conclamações aos quadros de funcionários e intelectuais para não abandonarem os empregos, garantias aos proprietários em geral – comerciantes e industriais – contra expropriações “arbitrárias”, apelos específicos à “nova” classe média urbana e à burguesia “nacional” (não comprometida com os traidores da pátria) para permanecerem em seus afazeres habituais.
Em novembro de 1948, os comunistas relançaram a ideia da Conferência Política Consultiva, reunindo os pequenos partidos de “centro”, inclusive um “Comitê Revolucionário do Kuomintang”, formado em Hong Kong em oposição ao caráter antidemocrático e antinacional do governo de Chiang Kai-Shek. Em junho de 1949, instalou-se um comitê preparatório da Conferência, em Beijing. A 21 de setembro de 1949, abre-se formalmente a Conferência com um amplo leque de forças políticas: 142 delegados representam os diversos partidos políticos (16 são enviados pelo PCC); 102 delegados representam as áreas libertadas; 60 falam em nome do Exército Popular de Libertação; 206 vêm pelas organizações populares (mulheres, jovens, sindicatos etc.), registrando-se ainda a presença de 75 personalidades independentes. A Conferência aprova um Programa Comum e elege um governo presidido por Mao Zedong. No dia 1º de outubro de 1949, proclama-se a República Popular da China (RPC). Mao Zedong exclama: “Nunca mais os chineses serão um povo escravo!”.”
Reis Filho, Daniel Aarão. A revolução chinesa. Brasiliense, 1981, págs 94 a 96.
AS ETAPAS DO COMUNISMO CHINÊS
A República Popular da China, buscando implantar o socialismo, passou pelas seguintes fases:
OS PASSOS DO COMUNISMO CHINÊS |
PLANEJAMENTO ECONÔMICO CENTRALIZADO (1949 – 1954) - adotando o modelo soviético de “Planos Quinquenais”, o governo de Beijing, de início, deu prioridade aos investimentos na indústria pesada, preterindo os bens de consumo e a indústria leve. Além disso, foi levada adiante a reforma agrária, implantando-se a propriedade coletiva do campo. Essa ênfase na industrialização drenou recursos da produção rural, empobrecendo os camponeses sem conseguir um crescimento urbano-industrial significativo |
“A POLÍTICA DAS CEM FLORES” - em meados dos anos 50, em razão do fracasso da industrialização, o Partido Comunista Chinês lançou a seguinte palavra de ordem: “que brotem cem flores de pensamento” para definir os rumos do socialismo. Noutros termos, os quadros do Partido deveriam discutir as diversas propostas para a construção da sociedade comunista. Entretanto, quando muitos membros do PCC começaram a questionar a ausência de democracia e apontar os erros do governo, foi lançada uma “campanha antidireitista” para eliminar a oposição |
“O GRANDE SALTO PARA FRENTE”(1958) - O PCC formulou um projeto de aceleração da industrialização num país de base camponesa. A ideia era transformar a China numa nação desenvolvida e igualitária num curto período de tempo. Os camponeses foram obrigados a se agrupar em gigantescas comunas agrícolas, sendo instalados pequenos fornos siderúrgicos em todas as regiões do país. Esses, como matéria-prima, usavam todos os utensílios de metal que as famílias possuíam, tais como panelas, talheres e objetos de adorno. A grande consequência do “grande salto para frente” foi uma total desorganização da economia chinesa, o que causou a morte, pela fome, de milhares de camponeses |
UM PROBLEMA PARA MAO ZEDONG - em 1962, o líder comunista faz uma autocrítica de seus erros na direção da economia, sendo substituído por Liu Shao-chi e Deng Xiaoping na condução dos assuntos internos. Entretanto, Mao mantinha o controle do Exército Popular de Libertação e era o responsável pela política externa |
ANOS 60 - a China rompe com a União Soviética. Os motivos dessa cisão foram: conflitos fronteiriços entre os dois países e, fundamentalmente, as críticas feitas pelo governo chinês ao XXº Congresso do Partido Comunista da União Soviética (1956), quando Nikita Krutschev, em seu famoso “Relatório Secreto”, denunciava os crimes cometidos por Stalin. A China alega que a União Soviética renegara o socialismo, incorrendo no “social-revisionismo”. Outro motivo da irritação chinesa foi o fato de que os soviéticos não repassaram os segredos da tecnologia nuclear para o governo de Beijing |
“A REVOLUÇÃO CULTURAL” (1966 – 1975) - buscando retomar plenos poderes, Mao Zedong acusa os quadros partidários de “direitismo”, “elitismo burguês” e “vícios burocráticos”. Tornava-se, portanto, necessário uma campanha de implantação de “valores culturais socialistas”. Baseados no então bastante difundido “Livro Vermelho” do Camarada Mao, composto de alguns slogans simplistas de caráter didático, milhões de estudantes, os “Guardas Vermelhos”, saíram às ruas para combater os “desvios burgueses” da sociedade e do Partido. Fábricas e universidades foram fechadas, pois, na opinião em voga, era preciso combater a “ideologia fascista da hierarquia do saber”; nas escolas que permaneceram, foram abolidas provas e exames, “típicos exemplos da competitividade burguesa”; professores foram espancados e intelectuais tiveram de se deslocar para o campo, onde trabalhariam e seriam submetidos à crítica por parte das massas; combateu-se a medicina mais sofisticada, substituída pelos “médicos de pés no chão”, jovens que recebiam um rápido treinamento para ajudar na cura de endemias e outras doenças que afetavam a imensa maioria da população: doenças cardiovasculares são “enfermidades burguesas”; a malária, o impaludismo, a febre amarela são males das camadas populares, era então o slogan em moda na China. Durante o período da “Revolução Cultural” foi terminantemente proibida a entrada dos valores e ideias ocidentais: livros que expunham o pensamento do ocidente foram queimados; a China se fechou para o mundo; seus atores, que viviam personagens individuais, foram colocados no ostracismo: só as massas podem estar representadas nos filmes e nos palcos |
A TEORIA DO “CAMPO CONTRA A CIDADE” - coerente com os preceitos da Revolução Cultural e rompida com a União Soviética, a China, no plano da política externa, busca se tornar uma nova “Meca” do comunismo internacional, liderando os países pobres do hemisfério sul contra as nações ricas do norte: uma versão mundial da revolução campesina que tomava poder na China. Em quase todos os países do mundo, os Partidos Comunistas, até então monoliticamente fiéis a Moscou, foram vitimados por cisões internas: proliferaram “alas chinesas” nas agremiações partidárias comunistas. Na Península Balcânica, a Albânia aderia ao “modelo chinês”. Seguindo essa orientação, no Brasil seria fundado o Partido Comunista do Brasil (PC do B), rompendo com o pró-soviético Partido Comunista Brasileiro (PCB) |
UMA VITÓRIA - em 1971 o governo comunista substituiu Taiwan como representante da China na Organização das Nações Unidas (ONU) |
UMA CURIOSA APROXIMAÇÃO - nos anos 70, os EUA, buscando isolar a União Soviética, estabeleceu contatos com o governo de Beijing e, em 1976, os EUA e a República Popular da China anunciaram a retomada de relações diplomáticas. |
A MORTE FAZ DIFERENÇA - em 1975, morria Mao Zedong: eclodia um conflito interno no PCC; de um lado, os radicais (então chefiados pelo “Grupo dos Quatro” de Xangai, destacando-se a viúva de Mao, Jiang Qing); de outro, os “pragmáticos”, que privilegiavam a eficiência econômica e administrativa em detrimento da “pureza ideológica” |
“NÃO IMPORTA SE O GATO É CINZA OU PRETO, IMPORTA QUE ELE CACE O RATO” - baseado nesse slogan, a linha pragmática, liderado por Deng Xiaoping, toma o poder, implantando o curioso “socialismo de mercado”, buscando conciliar o dirigismo político comunista com a abertura e liberalização econômicas |
A CHINA, HOJE - o país, nesses últimos anos, vem experimentando uma série de profundas reformas: maior liberdade de expressão e crítica; dissolução das comunas populares agrícolas, sendo as terras, ainda sob posse estatal, distribuídas entre as famílias; permissão de produção para o mercado; criação das Zonas Econômicas Especiais (nas proximidades de Hong Kong e Macau), abertas aos investimentos estrangeiros; maior autonomia aos gerentes das fábricas; progressiva retirada dos subsídios estatais aos preços dos bens de consumo, agora regulados pelo mercado e fechamento das empresas deficitárias, o que vem aumentando, de forma alarmante, o desemprego no país |
O MASSACRE DA “PRAÇA CELESTIAL” (1989)
A abertura econômica e a relativa liberalização do regime estimularam a juventude, principalmente a estudantil, a pedir uma plena democratização. Em abril de 1989, milhares de estudantes se reuniram na praça Tiananmen (“Praça da Paz Celestial”), no centro de Beijing. Este agrupamento de jovens estimulou centenas de grupos dissidentes a contestar publicamente o monopólio do poder exercido pelo Partido Comunista. O regime socialista parecia estar vivendo seus estertores finais. Em 4 de junho, após uma longa hesitação e acalorados debates entre as lideranças reformistas e conservadoras, o governo reagiu com violência: tropas e tanques expulsaram os oposicionistas, esmagando milhares de pessoas que então ocupavam a praça agora ironicamente denominada “Paz Celestial”. A ação governamental deixava clara a orientação do PCC: reformas econômicas devem ser feitas, mas o controle político do país tem de permanecer sob absoluto controle do Partido.
DOIS ÊXITOS EXTERNOS
O projeto geopolítico da China tem como base a reintegração dos territórios que, por longo tempo, permaneceram em mãos estrangeiras. Em 1997, a República Popular da China recuperou Hong Kong, firmando o princípio de “uma nação e dois regimes”. Dois anos depois, a possessão portuguesa de Macau foi retomada pelo governo de Beijing.
HONG KONG |
“A pequena colônia britânica de Hong Kong, situada na costa sul da China, é considerada o terceiro centro financeiro do mundo, depois de Nova Iorque e Londres, e ocupa o décimo sétimo lugar no comércio internacional. O Território era parte do antigo e bem organizado sistema administrativo chinês. A ilha de Hong Kong foi cedida ao Reino Unido em caráter “perpétuo” em 1842, quando os ingleses atacaram a China na Primeira Guerra do ópio. Em 1898, os britânicos obrigaram Pequim (atual Beijing) a ceder, por um arrendamento de 99 anos, a zona rural situada ao norte de Kowloon, conhecida com Novos Territórios. Hong Kong foi utilizada como centro comercial, sendo um ponto de entrada para a China. Na década de 50, após a vitória comunista, os Estados Unidos e o Reino Unido impuseram um bloqueio comercial à China. Hong Kong teve que importar todo seu consumo básico do ultramar e fomentar as exportações. Após isso, tornou-se um grande exportador de têxteis, peças de vestuário, produtos de plástico e eletrônicos. Da mesma forma que em Taiwan e na Coreia do Sul, esse desenvolvimento foi generosamente apoiado pelas potências ocidentais, interessadas em promover esses “bastiões” da Guerra Fria. O crescimento do comércio e da indústria de exportação transformou Hong Kong em um centro financeiro, de comunicações e de transporte. Para isso, também contribuiu a política de governo, estabelecendo baixos impostos, tarifas aduaneiras mínimas, confiabilidade e liberdade para os movimentos do capital. No final dos anos 70, Hong Kong tinha um dos melhores portos naturais do mundo, sofisticados sistemas internacionais de investimentos e comércio e grandes e modernos terminais de carga. Estima-se que entre 30 e 50% do comércio exterior da China seja realizado através de Hong Kong. (...) O governador de Hong Kong, indicado pelo governo britânico, tinha poderes absolutos na administração cotidiana do território. Ele era assistido por um Conselho Executivo e um Legislativo, cuja maioria de membros representava grupos empresariais, financeiros e profissionais. No começo da década de 80, Londres e Pequim iniciaram conversações sobre o futuro de Hong Kong, pois o arrendamento por 99 anos da maior parte do território terminava em 1977. Antes de começar as negociações com a China, Londres aprovou leis de imigração especiais que rebaixavam o status dos 3,25 milhões de residentes nascidos em Hong Kong, que possuíam passaporte e cidadania britânicos. As mudanças aprovadas retiravam dessas pessoas todos os direitos de fixarem residência no Reino Unido e de transmitirem a nacionalidade a seus descendentes. Criou-se o passaporte de cidadão de Território Britânico Dependente, que não confere cidadania real em nenhuma nação. O afã de obter passaportes estrangeiros (com frequência caribenhos e latino-americanos), muitas vezes através de compra ou suborno, fez surgir um verdadeiro tráfico ilegal e escândalos internacionais. As negociações sino-britânicas resultaram em um acordo em que ficou acertado que a China recuperaria a soberania sobre a totalidade do território em 1997, porém este contaria com um “alto grau de autonomia” como Região Administrativa Especial da China. Hong Kong, manteria seu atual “sistema social e econômico” por pelo menos 50 anos a partir de 1997; disporia de poderes executivo, legislativo e judiciário, emitiria sua própria moeda e continuaria a ser um território regido por leis próprias em relação à imigração e a controles aduaneiros. Pequim, por seu lado, reservou-se o controle da defesa e das relações exteriores. A China anunciou que o acordo continha um novo e importante conceito – “um país, dois sistemas” – também aplicado na colônia portuguesa de Macau, e insinuou, mais de uma vez, que podia ser o princípio de reincorporação de Taiwan. Ficou acertado que uma Lei Básica, com detalhes sobre o funcionamento do território após 1977, funcionaria como uma Constituição. (...) No dia 1º de julho de 1997, a zero hora, a China recuperou o controle de Hong Kong, depois de 155 anos de domínio colonial britânico. O empresário Tung Chi Hua foi designado para liderar o novo governo da ilha, assistido por um Conselho Legislativo. De acordo com a nova lei, Hong Kong conservará por 50 anos seus direitos e liberdades, sua autonomia judicial, sua natureza de centro financeiro, bem como seu modo de vida. A China reservou para si o controle da defesa e das relações exteriores. A reunificação iniciou a etapa “um país, dois sistemas”, pela combinação da economia de livre mercado de Hong Kong com o rígido controle político do resto a China.” Enciclopédia do Mundo Contemporâneo pág. 199 – Publifolha – Editora Terceiro Milênio |
MACAU |
“O pequeno enclave português de Macau está situado no estuário do rio Pérola, em frente a Hong Kong. Em 1557, os portugueses o estabeleceram como um elo importante na cadeia de portos comerciais que se estendia da Europa por toda a costa da África e da Índia, até Melaka e Nagasaki no Japão. Portugal pagou o arrendamento até o ano de 1849, quando o declarou território independente. A China aceitou esse fato em 1887, quando Portugal se comprometeu a não “alienar jamais Macau e suas dependências sem o consentimento da China”; em 1951 foi declarado província portuguesa de ultramar. Durante centenas de anos, Macau representou o ponto de contato principal para as relações comerciais entre a Europa e o vasto império chinês. Com o aparecimento da vizinha colônia britânica de Hong Kong e de Portugal como polêmica colonial, Macau perdeu importância. Em 1974, logo depois da queda do regime de Antônio de Oliveira Salazar, o governo português voltou a oferecer à China a devolução da colônia. Preocupada em não alarmar Hong Kong ou Taiwan, a China tampouco aceitou. Então, o governo português declarou unilateralmente que Macau era “território chinês, administrado por Portugal.” Em 1985, como as negociações sino-britânicas sobre o futuro de Hong Kong estavam encaminhadas, a China chegou a um acordo com Portugal, segundo o qual Macau seria devolvido em 1999, em condições similares as de Hong Kong, em relação à manutenção de certa autonomia. Para Portugal, Macau era um enclave de pouca utilidade, isolado do governo central a milhares de quilômetros de distância, com uma administração apática.(...) Em 1988, o governo começou a permitir a entrada de trabalhadores chineses, o que foi considerado pelas organizações sindicais uma manobra para não aumentar os salários. Macau possui poucos recursos naturais. A China fornecia parte da água consumida e, desde 1984, energia elétrica. No entanto, a partir de de 1989, mais de 90% da eletricidade consumida era produzida no país. A colônia dependia do turismo, de algum intercâmbio comercial com a China e da indústria leve (especialmente de brinquedos e têxteis). Quando a China começou a liberalização econômica e criou uma Zona Econômica Especial do outro lado da fronteira, iniciou-se a construção de um hotel e de um aeroporto. Em 1991, o novo governador Vasco Rocha Vieira franqueou as funções públicas aos cidadãos chineses, e declarou o chinês, junto com o português, língua oficial. Nas eleições legislativas de setembro de 1992, as organizações pró-China obtiveram a maioria dos assentos. Em 1993, foi aprovado o esboço final da Lei Básica, que serviria de Constituição para o território a partir de 1999, quando Macau se tornou uma região administrativa especial da China Popular, com governo designado por um colégio eleitoral local e um Conselho Legislativo com mandato até 2001. |
OS ATUAIS OBJETIVOS GEOPOLÍTICOS DA REPÚBLICA POPULAR DA CHINA
O governo de Beijing tem evidentes e bem definidos interesses geopolíticos. Em primeiro lugar, a recuperação de Taiwan, denominada pelos comunistas de “província rebelde”. Em hipótese alguma, a República Popular da China aceitaria uma declaração formal de independência de Formosa, que se autointitula de República da China. Sem dúvida, qualquer atitude nesse sentido, por parte do governo de Taipé, provocaria uma violenta ação militar chinesa. Após a reintegração de Hong Kong e Macau, Beijing vem propondo para Taiwan a mesma fórmula adotada naqueles dois territórios: “uma nação e dois sistemas”. Com a intenção de provocar agressivamente Taiwan, a China ocupou o arquipélago Dongsha (“Pratas”), situado nas proximidades de Formosa, além de ambicionar a ilha de Penghú (“Pescadores”), também desejada pelo governo de Taipé.
O segundo objetivo chinês é a expansão para o Mar da China Meridional, onde reivindica soberania sobre uma área de mais de 800 mil quilômetros quadrados. Essa região é também disputada pelo Vietnã e por Taiwan, desejosos, assim como a China, do total controle dela – e pela Malásia, Brunei e Filipinas, que ambicionam uma parte dela. Nessa região, os conflitos vêm ocorrendo no arquipélago Spratly, localizado no mar territorial filipino, e também no arquipélago de Natuna, onde existem ricos campos de petróleo e gás natural, atualmente explorados pela Indonésia. O arquipélago de Spratly é formado por quase 500 ilhas e recifes coralíneos, abrangendo uma área de 700 quilômetros de comprimento e 300 de largura. 24 dessas ilhas foram ocupadas pela República Democrática do Vietnã; 7, pela China; 6, pelas Filipinas; 3, pela Malásia e 2 tomadas por Taiwan. Em 1995, as pendências na região foram agravadas pela ocupação chinesa de uma ilha até então de domínio filipino, Mischief.
ALGUNS PROBLEMAS GEOPOLÍTICOS
A República Popular da China mantém um frio relacionamento com o governo indiano, em razão de disputas fronteiriças. Beijing reclama o território de Nefa, que compreende 84 mil quilômetros quadrados do nordeste indiano. Por seu turno, Nova Deli aspira retomar a região de Ak Sai Chin, localizada na Caxemira e ocupada pela China na década de 60. Outro motivo de animosidade da Índia em relação à China é o fato dessa última apoiar o Paquistão em seu conflito com a Índia pela posse da região da Caxemira.
Sem dúvida, o mais grave problema geopolítico da República Popular da China é a questão do Tibete. Em 1911, logo após a revolução nacionalista que proclamou a República da China, Beijing declarou que o Tibete era parte integrante do território chinês. Somente em 1950, as intenções chinesas se materializaram, quando tropas do Exército Popular de Libertação ocuparam a área. Em 1959, nacionalistas tibetanos – defendendo seus valores culturais e as práticas religiosas budistas tradicionais – promoveram um levante contra o governo comunista, sendo esmagados. O fracasso da insurreição fez com que o grande líder religioso do Tibete, o Dalai Lama, fugisse para a Índia onde reside até hoje.
Outro problema para o governo de Beijing é o florescimento de movimentos separatistas na região de Sin-Kyang. Aí, somente 38% da população pertencem à etnia Han – amplamente majoritária na República Popular da China. Na região, predominam os Uigures, muçulmanos de origem turca. Em 1991, quando do colapso da União Soviética, duas ex-repúblicas socialistas de religião islâmica, localizadas na fronteira de Sin-Kyang, ganharam independência: o Cazaquistão e a Quirquízia. Os uigures se entusiasmaram pois confiavam no apoio de seus “irmãos étnicos”. Para o dissabor daqueles, os dois países não quiseram entrar em conflito com a poderosa República Popular da China e se abstiveram de qualquer atitude em prol dos separatistas de Sin-Kyang. Além de não contarem com auxílio externo, os nacionalistas uigures, que sonham em criar a República Oriental do Turquestão, perderam o apoio da maioria de sua própria população devido ao grande surto de prosperidade vivido pela região, o que vem anestesiando os anseios emancipacionistas locais.
Finalmente, na Mongólia Interior, também ocorre um movimento separatista da etnia mongol, embora essa última seja minoritária face aos hans. Por esse motivo, e também pela falta de suporte da República da Mongólia, os nacionalistas da Mongólia Interior limitam-se a pedir maior autonomia cultural e democratização da China.
A POPULAÇÃO CHINESA
Com 1 bilhão e 350 milhões de habitantes (2013), a China é o país mais povoado do mundo. Sua população, contudo, é etnicamente homogênea: 91,5% são descendentes do grupo Han. O restante compreende mais de 50 etnias minoritárias, destacando-se tibetanos, manchus, mongóis e coreanos. Visando controlar essa explosão demográfica, o governo de Beijing tem levado a efeito, ao longo dos últimos anos, uma política de controle populacional, com relativo êxito.
A população chinesa que está desigualmente distribuída pelo território, apresenta uma densidade demográfica média de 141 hab/km² – a maior dentre os países de grande extensão geográfica - mas apresentando vazios demográficos enormes, notadamente nas regiões montanhosas de ocupação nômade, como, por exemplo, no Tibete e nas áreas desérticas da Mongólia Interior e de Sin-Kyang. No leste do país, as bacias fluviais – zonas propícias à agropecuária - a China conhece densidades demográficas acima de 2.000 hab/km². Nas colinas da extremidade meridional do país e nas planícies orientais – um quinto do território chinês - habitam 80% da população. Tentando superar os problemas acarretados pela formação desses quistos demográficos, o governo comunista tem subsidiado as migrações para as áreas despovoadas de Sin-Kyang e da Mongólia Interior, onde se praticam a mineração e a agricultura irrigada. Graças à política de controle demográfico do governo de Beijing, o crescimento vegetativo chinês tem sido de 0,46% ao ano. A população chinesa ainda é uma população jovem (32,6% de pessoas abaixo de 25 anos), o que propicia uma fácil reciclagem da mão de obra ativa. Por outro lado, uma população de jovens implica a necessidade de constante criação de empregos e de altos investimentos sociais nas áreas da saúde e educação.
Em 1979, o governo chinês conseguiu acelerar a queda da taxa de natalidade graças a uma legislação que determinava que cada casal só poderia ter um filho. Essa medida aumentou, de maneira significativa, o número de abortos de fetos do sexo feminino. Em consequência, a proporção de nascimentos masculinos (116 homens para cada 100 mulheres) tornou-se muito maior que a média mundial (105 homens para cada 100 mulheres).
Em 1994, a China foi alvo de protestos mundiais quando adotou uma política de caráter eugênico (eugenia: purificação racial). De fato, na ocasião entrou em vigor a Lei dos Cuidados Médicos à Maternidade e Infância, pela qual pessoas portadoras de doenças contagiosas e mentais são estimuladas à adiar o matrimônio. Além disso, proibiu-se o exame para verificação do sexo dos fetos e mães grávidas de crianças portadora de doenças hereditárias são aconselhadas a abortar.
A China tem 49,4% de sua população vivendo nas áreas rurais e em pequenas aldeias. O país ainda está em processo de urbanização.
Hoje em dia, o governo chinês tem interesse de limitar as concentrações urbanas, por meio da edificação de pequenas e médias cidades e do controle do crescimento das grandes. Rigorosas restrições têm sido impostas aos deslocamentos humanos entre as áreas urbanas e tem sido praticada uma política de incentivo à transferência de populações citadinas para as áreas rurais, principalmente para as frentes de trabalho pioneiras situadas no Tibete, Manchúria e Sin-Kyang.
A ECONOMIA CHINESA
A AGROPECUÁRIA
A economia chinesa é extremamente diversificada e com grandes contrastes de desenvolvimento regional e setorial. A agropecuária é um dos principais setores, ocupa 34,8% da população ativa e contribui com 10,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Durante o apogeu do modelo “socialista”, a unidade produtora básica eram as “comunas populares”, enormes fazendas coletivas que abrigavam uma média de 20 mil famílias e que, além de suas atividades econômicas agrárias, desempenhavam também funções industrial, política, administrativa, educacional, militar e social. Em 1979, quando da adoção do “socialismo de mercado”, as comunas populares têm sido desmanteladas e a ênfase, agora, é dada para o sistema de cooperativas, cujos produtos são destinados ao mercado.
Nos últimos anos, as técnicas agrícolas têm sido modernizadas. Nas regiões áridas, estão sendo levados a efeito enormes projetos de irrigação e recuperação dos solos pobres de material orgânico e, por consequência, não agricultáveis. Isso ocorre fundamentalmente na Mongólia e em Sin-Kyang, onde, atualmente, vem se difundindo o cultivo irrigado de trigo e algodão. A China ocupa hoje o primeiro lugar mundial de terrenos irrigados.
Na Manchúria e na bacia fluvial Huang Ho, na extremidade setentrional das planícies orientais, as boas condições climáticas e a presença de solo fértil aluvial (“loess”) possibilitam o cultivo de beterraba, soja, trigo, algodão e sorgo. Nas áreas meridionais, graças ao clima mais quente, proliferam produtos tropicais, tais como a cana-de-açúcar, tabaco, frutas, chá, milho, arroz de inundação e amoreira (bicho da seda). O arroz é o produto que ocupa as maiores regiões do espaço agrícola chinês, sendo produzido em vales fluviais, que, ao longo do verão, apresentam altos índices de umidade.
A pecuária chinesa também vem progredindo, destacando-se os rebanhos de suínos (464,6 milhões de cabeças, o primeiro do mundo), ovinos (138,8 milhões de cabeças, o segundo do mundo) e o de bovinos (82,9 milhões de cabeças, o quarto do mundo). Além disso, grande é a produção de galináceos, destacando-se, também, a criação de patos.
Apesar do volume da produção agropecuária chinesa, por longo tempo, ainda não será suficiente para atender à demanda interna. De fato, há, no país, 1 bilhão e 350 milhões de bocas ávidas de alimentos.
A INDÚSTRIA
O desenvolvimento da indústria pesada é facilitado pela abundância de recursos minerais e energéticos existentes no solo chinês. As principais riquezas são:
- tungstênio, estanho, carvão, minério de ferro, antimônio, petróleo, fosfatos, ouro, manganês e mercúrio.
No nordeste do país e ao longo do curso do rio Huang Ho, o potencial hidrelétrico – bastante grande – ainda permanece parcialmente explorado.
Antes da revolução socialista, a exploração dos recursos naturais era realizada por empresas estrangeiras, já que o partido político então dominante – o Kuo-Min-Tang – estava a serviço dos interesses neocolonialistas. Na ocasião, as poucas indústrias existentes estavam concentradas junto às jazidas de carvão da Manchúria e nas áreas litorâneas de Tientsin e Xangai, locais de fácil acesso aos navios das potências imperialistas ocidentais. Com o advento do comunismo, o desenvolvimento industrial passou a apresentar novas características: socialização dos meios de produção, planificação centralizada e prioridade das indústrias de base.
Atualmente, os centros industriais chineses localizam-se nas planícies orientais, apesar dos esforços governamentais no sentido de incentivar a descentralização.
AS ÁREAS INDUSTRIAIS CHINESAS |
INDÚSTRIA PESADA (SIDERURGIA, METALURGIA, EQUIPAMENTOS E PRODUTOS QUÍMICOS) - Manchúria, Beijing, Cantão, Nanquim, Xangai e Wuhan (essas três últimas cidades situadas no vale do rio Yang Tsé-Kiang) |
INDÚSTRIA LEVE - Xangai, Beijing, Tientsin e, mais recentemente, Tsingtao e Sian |
INDÚSTRIAS ARTESANAIS E ALIMENTÍCIAS - distribuídas por todo país |
Nos últimos anos, a partir das reformas iniciadas pelo líder “pragmático” Deng Xiaoping, a China vem se abrindo aos capitais internacionais, buscando modernizar e acelerar a industrialização. Como consequência, o país passou do vigésimo terceiro PIB mundial (1979) para o nono mundial, em meados da década de 90. Seu comércio, que hoje ocupa a segunda posição do planeta, vem permitindo o acúmulo de reservas cambiais da ordem de 2,5 trilhões de dólares (2013).
Com a liberalização econômica, foram criadas, nas áreas litorâneas, mais de 10 Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), onde floresce a economia de mercado com a participação de empresas e capitais internacionais. Ao longo dos anos 90, mais de 200 bilhões de dólares foram investidos nessas áreas, revolucionando o sistema produtivo industrial e modernizando o país.
Atualmente, a China é um dos maiores parceiros comerciais dos Estados Unidos da América, em termos de importação e exportação. Porém, ocorre desavenças devido ao fato do governo de Beijing não aceitar as leis internacionais que regulam os direitos autorais e as patentes industriais, entre outros problemas.
Os governos ocidentais acusam – com toda razão – a China de praticar “dumping social”, pois ela indiretamente subsidia seus produtos por meio da utilização de mão de obra extremamente barata, além da prática de exploração do trabalho escravo de prisioneiros.
A China aderiu a Organização Mundial do Comércio em 2001, recebendo acesso a mercados internacionais. A China é um dos maiores exportadores do mundo e atrai enormes quantias em investimento externo.
Apesar de uma média de crescimento anual de 10%, a economia da República Popular da China ainda apresenta sérios problemas como a pobreza e a baixa qualidade de vida para muitos de seus habitantes. 13,4% (2011) dos chineses vivem abaixo da linha de pobreza.
A CHINA EM NÚMEROS
REPÚBLICA POPULAR DA CHINA |
CAPITAL - Beijing (Pequim) |
ÁREA - 9.562.036 km² |
MOEDA - iuan |
IDIOMAS - mandarim e dialetos regionais (principais: vu, min e cantonês) |
RELIGIÃO - crenças populares (20,3%); budismo (8,5%); islamismo (1,4%); cristianismo (0,1%), sem filiação e ateísmo (64%) |
POPULAÇÃO - 1 bilhão e 338 milhões de habitantes |
COMPOSIÇÃO ÉTNICA - chineses han (91%) e grupos étnicos minoritários: chuans, manchus, uigures, huis, yis, tibetanos, mongóis, miaos, puyis, dongues, iaos, coreanos, duias, bais, hanis, cazaques, dais, lis e outros |
PIB - 12,6 trilhões de dólares |
RENDA PER CAPITA - 9300 dólares |
PRODUTOS AGRÍCOLAS - arroz, batata-doce, trigo, milho, soja, cana-de-açúcar, tabaco, algodão em pluma, batata, juta, legumes e verduras |
PECUÁRIA - suínos, equinos, ovinos, bovinos, búfalos, camelos, caprinos e aves |
MINERAÇÃO - carvão, petróleo, chumbo, minério de ferro, enxofre, zinco, bauxita, estanho, fosforito e asfalto natural |
INDÚSTRIA - têxtil, materiais de construção e siderurgia |
PRINCIPAIS PARCEIROS COMERCIAIS - Japão, Estados Unidos da América, Taiwan e Coreia do Norte |
ESTRUTURA POLÍTICA - República Parlamentarista |
CHEFE DE ESTADO - Presidente XI Jinping (desde 2013) |
CHEFE DE GOVERNO - Primeiro Ministro Wen Jiabao LI Keqiang (desde 2013) |
PARTIDO ÚNICO - Partido Comunista Chinês |
PODER LEGISLATIVO - unicameral: Congresso Nacional do Povo (2.987 membros eleitos por voto indireto para mandato de 5 anos) |
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO (IDH) - 0,699 - 101º lugar no “ranking”mundial (2013) |
É POSSÍVEL UM “SOCIALISMO DE MERCADO”?
Nas ultimas décadas, a China parece condenada a desmentir uma série de mitos político-ideológicos. Sua revolução socialista, contrariando os preceitos marxistas ortodoxos, não foi proletária, mas fruto de uma aliança entre intelectuais e camponeses. Nos anos 60, o maoísmo jogou o povo chinês no caótico abismo da Revolução Cultural, responsável pela desorganização econômica, absoluto fechamento ao mundo e surtos violentos de fome, que, como sabemos hoje, chegaram a provocar atos de canibalismo. Com a morte de Mao Zedong, uma linha mais “pragmática” do Partido Comunista Chinês, liderada por Deng Xiaoping, passou a privilegiar a eficiência em detrimento de qualquer tipo de “pureza ideológica”. Nascia uma curiosa e, aparentemente paradoxal, experiência econômica: o “socialismo de mercado”, sem dúvida alguma, uma contradição em termos: a economia de mercado, por definição, nega o dirigismo estatal; o socialismo, segundo os cânones ortodoxos, sempre pregou a eliminação da “irracionalidade” da economia de mercado. Duas “mãos” em conflito: a “mão visível” do Estado versus a “mão invisível” da economia liberal.
A estratégia chinesa consistiu na formação de uma economia progressivamente menos dirigida, porém sob absoluto controle político por parte do Estado. Ciente de que a transição de uma economia centralizada para uma mais aberta implica em pesado custo social, o Partido Comunista Chinês, temendo contestação e críticas, preserva o autoritarismo governamental, maneira de abafar eventuais contestações. Outro aspecto da nova orientação chinesa é aprimorar o sistema educacional, objetivando inserir a China na modernização tecnológica que hoje caracteriza o mundo desenvolvido.
A China obteve êxito na difícil tarefa de prover casa, alimentação e assistência médica para quase toda população.
O modelo chinês, enfrenta, no entanto, alguns obstáculos. Em primeiro lugar, o contraste entre uma estrutura econômica altamente produtiva e os constantes déficits estatais. Além disso, há áreas, principalmente no litoral, marcadas por uma rápida modernização, enquanto outras, nas regiões interioranas, ainda tradicionais e tecnologicamente arcaicas. Por fim, agrava-se o desequilíbrio econômico e cultural entre a população urbana, e a rural, ainda presa aos velhos hábitos e costumes. Todas essas crescentes diferenças sociais e regionais ameaçam a própria unidade política do país.
Todos esses problemas geram no Partido Comunista Chinês um conflitante debate entre os “duros”, lideranças mais apegadas ao socialismo tradicional, e os “reformistas”, que defendem a idéia de que só a modernização poderá suplantar os obstáculos que se colocam no caminho da China para se tornar uma grande potência.
Muitos objetivos já foram alcançados: a China conseguiu controlar a inflação, crescer economicamente e, ao mesmo tempo, atrair os capitais internacionais. Nas suas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), a presença de investimentos estrangeiros deu um novo dinamismo à produção e circulação de bens. As exportações chinesas, em parte graças a uma mão de obra extremamente mal paga, têm gerado grandes superávites na balança comercial, além de facilitar o pagamento da dívida externa. Após o sétimo Plano Qüinqüenal, iniciado em 1985, a China passou a importar tecnologia, permitindo a entrada de especialistas estrangeiros. Abrindo-se para o mundo, o país já firmou mais de cem acordos internacionais de cooperação científica e técnica. Cada vez são mais íntimas as relações econômicas com o Japão, a República da Coreia, Estados Unidos da América, Cingapura e, até mesmo, com Taiwan, apesar das divergências políticas e ideológicas.
A China, um dos grandes “tigres asiáticos”, se tornou a segunda maior economia do mundo no início do terceiro milênio.
Os ventos reformistas também varreram o campo chinês, onde as comunas populares foram substituídas por fazendas coletivas mais liberais, que permitem a venda de excedentes para o mercado. Esse incentivo provocou um extraordinário aumento da produtividade agrícola: de 2% ao ano, em 1978, passou a crescer à média de 8%. A China, com apenas 7% da área cultivada do mundo, alimenta 22% da população mundial. Nas indústrias, os bens que excederem as cotas de produção fixadas pelo Estado são divididos em três partes iguais: a primeira para a elevação dos salários; a segunda para ampliar os benefícios sociais da empresa (educação e planos de saúde); finalmente, a última porção para a modernização tecnológica da própria empresa. Se levarmos em conta os padrões capitalistas, o Estado ainda é excessivamente presente na economia, mas essa intervenção vem decrescendo rapidamente. Em 1980, 80% da produção era controlada pelo Estado; hoje, menos de 50%.
Apesar dos relativos êxitos econômicos, poucas alterações ocorreram no plano político: o autoritarismo permanece. Em 1989, no famoso incidente da Praça da “Paz Celestial”, forças militares esmagaram um movimento oposicionista encabeçado por estudantes, deixando claro que o governo chinês não aceitava atrelar a liberalização econômica à democratização política. Desencantada com ações políticas e resignada à permanência do dirigismo autoritário, a juventude chinesa vem optando pelo individualismo e pelo enriquecimento pessoal. Fazer dinheiro e consumo de produtos de luxo parecem ser as únicas preocupações do chinês atualmente. Muitos analistas internacionais defendem o conceito de que, por mais que o Estado resista à abertura política, o rápido desenvolvimento econômico e os novos hábitos daí decorrentes levarão inevitavelmente à democracia. Só o futuro dirá.
Sumário
- Os limites geopolíticos- O relevo
- Hidrografia
- Clima e vegetação
- Uma civilização milenar
- A invasão nipônica
- A Revolução Vermelha
i. A tomada do poder
- As etapas do comunismo chinês
i. O massacre da “praça celestial” (1989)
- Dois êxitos externos
i. Hong Kong
ii. Macau
- Os atuais objetivos geopolíticos
- Alguns problemas geopolíticos
- A população chinesa
- A economia chinesa
i. A agropecuária
ii. A indústria
- A China em números
- É possível um “socialismo de mercado”?
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